25.07.22
O sucesso da vitivinicultura nacional entre os consumidores brasileiros depende muito mais dos chamados “vinhos de entrada” do que dos rótulos de alta gama de nossas vinícolas. O aumento de mais de 30% no consumo de vinhos nacionais no primeiro ano da pandemia comprovou que os brasileiros querem beber a produção do seu país – desde que a relação preço-qualidade seja melhor que a dos importados.
E hoje é. Com a alta do dólar e dos fretes internacionais, a Covid-19 e a guerra da Ucrânia, os preços dos vinhos brasileiros mais simples tornaram-se bastante competitivos em relação aos dos “vinhos de combate” das grandes bodegas chilenas e argentinas. Quanto à qualidade, nem se compara. Nesta categoria, nossos vinhos são muito melhores. Então, com preço e qualidade competitivos, as vinícolas brasileiras têm condições de ampliar consideravelmente o seu share no mercado interno (que, no final das contas, é o que interessa).
Para isso, mais do que nunca terão de investir em vinhos de entrada, simples mas tecnicamente bem feitos; melhores que os importados, mas com preços similares. Este é o perfil da bebida que vai formar um novo público e ajudar o Brasil a ultrapassar a mirrada marca de consumo de apenas três litros por habitante ao ano. Podem vir a ser, também, os vinhos do cotidiano para aqueles que bebem eventualmente produtos mais caros.
Falar é fácil, fazer são outros quinhentos. O vinho nacional recolhe mais de 55% do seu preço de varejo em tributos. A escala de produção das vinícolas brasileiras é pequena, se comparada às de suas concorrentes no Mercosul. Mas o setor terá que superar esses entraves e apostar cada vez mais em produtos acessíveis para o dia a dia. Toda vinícola precisa ter pelo menos um rótulo de entrada em seu portfólio. Quem pode beber um vinho de R$ 150 ou R$ 250 reais todo dia? Mesmo uma garrafa de R$ 25, se consumida diariamente ou mesmo três vezes por semana, já pesa no orçamento da maioria dos brasileiros que ainda podem se dar ao luxo de beber vinho.
Por outro lado, a concorrência com os importados na faixa acima de R$ 200 é feroz. Quem paga este valor por uma garrafa, quase sempre prefere os estrangeiros – principalmente os encorpados argentinos -, mesmo que tenhamos excelentes rótulos também nesta categoria. É uma questão cultural. Lamentavelmente, ainda se acredita que tudo o que vem de fora é melhor, ou tem mais status…
Também neste caso, os rótulos de entrada podem ser um bom negócio para as vinícolas: embora o valor agregado seja menor por unidade, produzidos em maior escala eles poderiam bancar a produção de vinhos icônicos, mais caros, de tiragem limitada, que arrebatam medalhas e conferem prestígio aos seus produtores, mas vendem pouco.
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