Papel do Programa Fazendas Vivas na descarbonização da agropecuária

O Programa Fazendas Vivas (PFV) nasceu da vontade de desacoplar a produção de alimentos do d


Edição 29 - 16.05.22

O Programa Fazendas Vivas (PFV) nasceu da vontade de desacoplar a produção de alimentos do desmatamento e focar na melhoria da produtividade, promovendo maior rentabilidade ao produtor e uma série de cobenefícios socioambientais.

Assim, a proposta do PFV é ajudar o produtor a reduzir a pegada de carbono de seu produto final, a aumentar sua competitividade no mercado internacional e a gerar excedentes econômicos que possam garantir maiores níveis de bem-estar social.

O início dessa jornada consiste em uma boa mensuração do balanço de carbono da propriedade, a qual gera informações valiosas para a tomada de decisão do produtor, valoração do produto e prestação de contas às partes interessadas.

Esse é o trabalho que vem sendo implementado pelo Grupo Roncador na fazenda Roncador (Querência-MT), incluindo em sua agenda as questões climáticas, de forma a se preparar para os riscos e identificar as oportunidades. Assim, buscou-se reconstruir o histórico de emissões e remoções nessas fazendas.

A Fazenda Roncador tem extensão de 147.462 hectares, dos quais praticamente a metade é vegetação nativa (transição Cerrado e Amazônia). Antes de 2008, a área produtiva da propriedade era praticamente ocupada por pecuária de ciclo completo extensiva sob pastagem degradada. A partir desse ano, foi iniciado o plantio de soja e um processo de intensificação na produção.

Os resultados obtidos retrataram as consequências da transição intensa no uso do solo implementada na propriedade. Em um período de aproximadamente 12 anos, a propriedade reduziu drasticamente a sua dependência da pecuária e zerou a sua área de pastagens degradadas. Com isso, aumentou a sua produtividade por hectare, a diversidade de produtos e, concomitantemente, a remoção e fixação de carbono no solo, demonstrando que o carbono pode ser utilizado como um importante indicador de bom manejo por representar uma intensificação sustentável no campo.  No período avaliado, o balanço das emissões apresentou um perfil conforme figura abaixo. Note que, à medida que o balanço de GEE se torna mais negativo (isso equivale a menor emissão), a produção de carne e grãos cresce significativamente ao longo dos anos safra.

Figura 1. Balanço de GEE versus dinâmica de produção na Fazenda Roncador

Assim, o Grupo Roncador caminha para um cenário com múltiplos benefícios para o produtor e para a sociedade:

  • Ao implementar sistemas integrados, aumentam a produtividade por unidade de área e tornam-se mais resilientes aos impactos das mudanças climáticas, por ter maior diversidade produtiva. Este processo aumenta também a rentabilidade do agricultor, o qual se torna mais resiliente financeiramente;
  • Com o aumento de produtividade e rentabilidade, há menor pressão pela abertura de novas áreas de vegetação nativa, mantendo uma gama de serviços ambientais locais (recursos hídricos, polinização, beleza cênica) e globais (redução do desmatamento e das emissões de GEE atreladas);
  • Neste processo, passam a remover uma quantidade substancial de carbono da atmosfera, contribuindo para os esforços globais de mitigação da crise climática.

Desta forma, os resultados obtidos comprovam o potencial das boas práticas agropecuárias, em especial nos sistemas integrados, de produção de alimento aliada à remoção de quantidades consideráveis de carbono da atmosfera.

A continuidade no acompanhamento do balanço de emissões é recomendada para fortalecer essas evidências, identificar com maior precisão a correlação entre as decisões de manejo com a remoção de carbono no solo e a intensificação sustentável, influenciar positivamente outros atores do setor a incorporar essas práticas, ser reconhecido pelo mercado pelo diferencial de sustentabilidade dos produtos do Grupo Roncador e criar as bases para que, em breve, possa transformar esse ativo ambiental em ativo financeiro através do mercado global de créditos de carbono.