21.05.19
Por Marcelo C C Stabile*
A agropecuária brasileira depende imensamente de previsibilidade climática. Uma grande parte de nossas lavouras e quase a totalidade das áreas de pasto dependem de chuva, muita dela originária na Amazônia e que viabiliza a produção no restante do país.
Ao mesmo tempo, é inconteste que o Brasil abriga a maior floresta tropical do mundo. As comunidades científicas nacional e a internacional reconhecem a importância da Amazônia como provedora de serviços ambientais como chuva, estocagem de carbono, regulação climática e habitat para biodiversidade.
Nesse cenário, o Brasil tem dupla responsabilidade, na conservação da natureza e no fornecimento de alimentos para dentro e fora do país. Viabilizar a conservação, tanto em áreas públicas quanto privadas, é necessário para dar sustentabilidade para nossa produção e estabilidade para o clima. Por esse motivo, produção e conservação não são caminhos antagônicos, mas necessárias para alimentar uma população mundial crescente, que deve passar de 9 bilhões de pessoas em 2050.
Dado que muitos produtores rurais têm áreas de vegetação nativa em suas propriedades além do exigido pela legislação, devemos, enquanto sociedade, fomentar a preservação dessas áreas. Isso se dá pela implementação do Código Florestal, aprovado em 2012 após amplo debate na sociedade, mas também pela inovação – e existe espaço para ela florescer no país.
É o caso do CONSERV, mecanismo em gestação no Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), que visa a conectar produtores rurais de Mato Grosso a financiadores de serviços ambientais. Com uma estrutura enxuta de governança e agilidade de transferência de recursos, a proposta é que produtores sejam compensados para preservar seus excedentes de reserva legal. A ideia é transmitir diretamente o dinheiro para o produtor, que receberá um pagamento pelo serviço ambiental que presta para o Brasil e o mundo, valorizando a conservação e viabilizando a produção sustentável.
Esse é um modelo “ganha-ganha” de inovação, com óbvias conquistas para os produtores, a economia local, a biodiversidade e o clima. Outros devem surgir, para que se promova uma mudança de paradigma e para que a floresta tenha seu valor traduzido em ganhos – inclusive financeiros.
*Marcelo C C Stabile é engenheiro agrônomo formado pela ESALQ/USP, mestre em Agricultura pela Texas A&M University (EUA) e doutor em Agricultura pela Universidade de Sydney (Austrália). É pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
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