Ele quer mais tomate na mesa dos brasileiros

Há quase 25 anos Edson Trebeschi iniciou uma empresa de consultoria técnica para tomaticultores no


Edição 11 - 30.04.19

Há quase 25 anos Edson Trebeschi iniciou uma empresa de consultoria técnica para tomaticultores no Triângulo Mineiro e acabou se tornando um dos principais produtores do fruto no Brasil

Patrocínio: Corteva Agriscience

Por Romualdo Venâncio | Fotos: Rogério Albuquerque

Ao contrário do que prega o dito popular, Edson Trebeschi acredita que em casa de ferreiro o espeto deve ser eficiente. O empresário recebeu a equipe do projeto TOP FARMERS na sede da Trebeschi Tomates, em Araguari (MG), com uma saborosa mostra dos principais alimentos que leva ao mercado, apresentados em formas diferentes de consumo. Os tomatinhos sweet grape, por exemplo, foram servidos in natura e envoltos em chocolate; e o milho doce, que chega aos consumidores já pré-cozido, estava cortado em pedacinhos no formato de meia-lua, como petisco, e em uma versão ainda mais doce, como beijinho.

Ajudar os consumidores a diversificar o cardápio no dia a dia é uma das estratégias da Trebeschi para incentivar o consumo de tomates e dos demais itens no portfólio da empresa e, claro, conquistar mercado. Edson conta que os brasileiros consomem, em média, cerca de 18 quilos de tomate por ano, mas há países em que esse número passa de 40 quilos per capita/ano. “Dentro de nossa área comercial temos uma equipe de nutricionistas que desenvolve diferentes maneiras de apresentação de nossos produtos, inclusive criando receitas para auxiliar o consumidor. E o povo mineiro é bom de gastronomia”, diz ele. A preocupação em oferecer alternativas ao mercado é a mesma que levou o empresário a buscar sua formação profissional na produção agrícola.

Nascido em Aguaí, no interior de São Paulo, Edson vem de uma família de produtores rurais. Seu bisavô, imigrante italiano, foi para a região, onde se dedicou à pecuária e depois à cafeicultura. “Minha infância toda foi ligada ao agronegócio”, comenta o empresário, que ao completar 14 anos decidiu entrar para um curso profissionalizante de técnico em agropecuária. O objetivo era buscar alternativas para atualizar o modelo tradicional de produção utilizado por seus familiares, opções que aprimorassem o desempenho das atividades ali desenvolvidas. “Ainda criança eu via possibilidades de usar novas tecnologias que trouxessem mais qualidade de vida para minha família e para as pessoas ao redor”, conta Edson, que pensava em retornar do curso técnico e aplicar os novos conhecimentos, ainda que tivesse de superar o natural choque de gerações.

No entanto, quando se formou técnico agropecuário, já com 17 anos, surgiu a oportunidade de trilhar outro caminho. Foi trabalhar na Cooperativa Agrícola de Cotia (Coopercotia). “Na época, a maior cooperativa do segmento de frutas, legumes e verduras”, lembra Edson, que teve ali a base para seu crescimento profissional e pessoal. “A Coopercotia era formada por japoneses. Aprendi com eles a ter muita disciplina e a me dedicar à vida profissional de uma forma diferenciada”, comenta.

CARREIRA SOLO

Quando a Coopercotia encerrou suas atividades, em 1994, Edson nem teve tempo de lamentar a perda do emprego. O trabalho que vinha fazendo precisava de continuidade. Ele passou a atuar como consultor autônomo, levando assistência aos ex-cooperados, inclusive para a comercialização da produção. “Foi aí que vislumbrei o futuro da tomaticultura no cerrado, tanto pelo potencial produtivo quanto pela localização geográfica e pelas condições climáticas”, diz o empresário.

Conforme a demanda foi aumentando, veio a necessidade, até por uma questão estratégica, de o Edson também passar a cultivar tomates, o que aconteceu em meados de 1998. “Resgatei o sonho de menino, de colocar para dentro da porteira a tecnologia que me permitisse produzir um alimento de qualidade e melhorar a vida do homem no campo.” Era a consolidação da Trebeschi Tomates, nascida quatro anos atrás.

Atualmente, além da matriz em Araguari, a Trebeschi tem mais de 30 unidades produtoras distribuídas no próprio Triângulo Mineiro e nos estados de Goiás, São Paulo e Santa Catarina. Essa abrangência geográfica garante a oferta de tomates durante o ano todo. “Estamos abrindo uma nova frente em Pernambuco”, conta Edson, citando a unidade que está sendo preparada no município de Bezerros. Somadas todas as unidades produtivas, a empresa cultiva cerca de 1,2 mil hectares de tomate por ano. O formato de cooperativismo foi mantido, por isso, além das lavouras próprias, a empresa também trabalha com outros agricultores, no formato de integração. “Compartilhamos aquilo que está dando certo em nosso modelo de produção e levamos respaldo e assistência técnica a esses parceiros, para que consigam ter sucesso na atividade”, comenta.

A filosofia trazida dos tempos de Coopercotia foi um importante suporte para a composição e a gestão das equipes da Trebeschi. “As pessoas que vinham trabalhar comigo precisavam sentir prazer em fazer parte do time, sentir orgulho de estar nessa trajetória. Ainda hoje temos colaboradores que nos acompanham desde o primeiro tomate que plantamos”, lembra Edson. A forma como os colaboradores se relacionam com o empresário, sobretudo no campo, prova não se tratar apenas de discurso.

Em meio às lavouras de tomate, após terminar o telefonema com um diretor comercial, sobre negociações com um hipermercado, Edson foi abordado por um dos muitos safristas de colheita vindos de outros estados – este, do Ceará –, interessado em garantir vaga na próxima temporada. O empresário o ouviu com atenção e, em seguida, confirmou o bom desempenho do jovem com o gerente da colheita. “Esse tipo de abordagem é muito gratificante. Há várias histórias de pessoas que estão conosco há muito tempo. É claro que o resultado tem de ser entregue, a empresa tem de ser competitiva, mas isso deve ser feito de forma harmoniosa”, diz. “Preciso ter essas pessoas envolvidas, comprometidas e felizes com o trabalho que desenvolvem, mas de forma espontânea, com naturalidade.”

A formação de equipes ideais passa também pela assertividade na contratação, o que depende diretamente da preparação e da competência do departamento de Recursos Humanos. E, depois, pelos processos de treinamento e capacitação. “Temos exemplos de gente que entrou aqui no operacional, teve oportunidade de estudar, fazer faculdade, e hoje está em cargo estratégico dentro do negócio. Investimos bastante nas pessoas”, diz Edson. “Mas, nessa relação, não há nada melhor do que você se colocar no lugar do outro.” É assim que o empresário procura olhar também para fora da companhia e entender o que os consumidores esperam dos alimentos que a Trebeschi produz.

O CLIENTE SEMPRE TEM RAZÃO

“A gente precisa, cada vez mais, ter criatividade e valorizar o dinheiro do nosso consumidor, pois ele está no seu direito de buscar o melhor em uma relação justa de preço.” Essa visão de Edson é o que direciona todo o trabalho realizado pela Trebeschi para entender a demanda de seus clientes e, a partir daí, definir o ciclo de produção dos alimentos: plantio, cultivo, classificação, beneficiamento, logística e apresentação. A estratégia serve tanto para a área agronômica quanto a comercial. O empresário procura, ainda, entender o que já é realidade no varejo fora do Brasil e, no papel de consumidor, avaliar o que faz sentido trazer para o mercado interno.

Para oferecer o melhor atendimento nas ações de trade marketing, antes de qualquer ação para divulgar novidades dentro das lojas, quem vai fazer a promoção diretamente com o público passa por um treinamento dentro da empresa, conhecendo as estufas e a forma como os alimentos são produzidos. Mesmo que não se espere dúvidas muito técnicas dos consumidores, não vai faltar preparo para responder aos questionamentos. Ainda mais pela frequência com que a Trebeschi apresenta novidades no mercado. Hoje, a empresa conta com mais de 30 itens em seu portfólio.

Os lançamentos mais recentes mostram a importância da variedade de produtos na estratégia de crescimento da Trebeschi. Alguns exemplos são os tomates Cereja Rama, mais doces, com baixa acidez e apresentados na rama; o Pimentão Block, também mais adocicado, com calibre menor e coloração (amarelo, vermelho, verde e laranja) mais acentuada; o Minipepino, um produto leve e crocante, para ser servido como snack; a pimenta Sweet Palermo, leve e doce; a Abóbora Batã, com tamanho que dá mais praticidade e pode ser preparada até na churrasqueira; o Molho de Tomate Premium e o Ketchup de Sweet Grape; e o Sweet Milho Chico Bento.

Este último é um exemplo da persistência nas inovações de olho no mercado. A parceria com os Estúdios Mauricio de Sousa começou há cerca de dez anos. “Quando fomos conversar com o Mauricio e a Mônica sobre nossa intenção de ter um tomate da Turma da Mônica, nos disseram que eram consumidores dos nossos produtos, mas tinham receio de associar a marca deles ao tomate, que na época, de maneira geral, tinha uma imagem arranhada”, conta Edson. Começou então um processo de convencimento técnico. “Os convidamos para conhecer todo o processo de produção porteira adentro”, diz o presidente da Trebeschi. “Foi um processo demorado, que envolveu auditorias, análises de resíduos, um trabalho muito sério. No final, fomos eleitos como licenciados exclusivos no Brasil para a linha de tomates.”

O mesmo aconteceu em relação à apresentadora Ana Maria Braga, que assina algumas linhas de produtos exclusivos da Trebeschi. “Costumo dizer que gastronomia não é questão de moda, está aí em evidência para trazer alternativas de consumo e melhor aproveitamento dos alimentos disponíveis”, comenta Edson. O fato de a Ana Maria ser uma das pioneiras nesse segmento de gastronomia na mídia levou o empresário a mostrar o portfólio da empresa à apresentadora. “Ela se encantou com nossa linha de produtos.”

O VALOR DA SUSTENTABILIDADE

Todas essas iniciativas impactam diretamente na comunicação, na conversa com o consumidor final e ajudam a chamar a atenção para mostrar o que realmente dá sustentação à marca. É uma abertura para falar sobre a eficiência produtiva e o compromisso com a sustentabilidade. Tudo isso começa com a preservação e o melhor aproveitamento dos recursos naturais. No manejo do solo, por exemplo, são feitas análises para definir a necessidade de algum tipo de correção. O diagnóstico para a definição do plantio é realizado por meio de um levantamento planialtimétrico, feito com a utilização de drones. “Assim geramos os mapas de plantio, o que já é uma técnica conservacionista”, afirma Edson. “Sempre trabalhamos uma cultura verde antes de plantar o tomate, para preservar a terra”, acrescenta.

Outra medida tomada para manter a fertilidade e a qualidade das terras é a rotação de culturas. Foi o que levou a Trebeschi a investir também no plantio de grãos. Hoje já são 40,8 mil hectares de soja. Edson explica que o tomate acaba contribuindo para uma alta fertilidade do solo, o que assegura maior produtividade do plantio de grãos, tanto soja quanto milho. Essa expansão incentivou uma alteração na identificação visual da companhia. “Adotamos uma nova imagem, que mostra melhor o processo constante de melhoria. E as cores simbolizam nossa diversidade de itens, tanto na produção quanto na comercialização. O tomate continua a ser nosso principal produto, mas já estamos trabalhando com legumes, milhos, batatas, batata-doce e agora entramos também na cafeicultura. Por isso, estamos passando a nos chamar Trebeschi Agro”, explica o executivo.

A preservação da água é um dos destaques na produção, a começar pelo sistema de irrigação por gotejamento, tecnologia baseada nos modelos israelenses. Com o fornecimento de água e fertilizantes de acordo com a necessidade das plantas, a umidade do solo está sempre equilibrada, e ainda reduz em 30% o consumo hídrico. No caso dos vegetais cultivados em estufas, o aproveitamento da água é ainda mais surpreendente, com economia de 40% do recurso. Os tomates sweet grape, por exemplo, são cultivados em vasos, em um manejo que Edson chama de semi-hidropônico. A oferta de água e fertilizantes também é feita de forma controlada, por meio de sistemas computadorizados.

O grande diferencial é que toda a água utilizada nessas estufas é captada da chuva. Na unidade de Araguari há 24 estufas, com expansão em andamento para ter mais dez, e um reservatório com capacidade para armazenamento de 21 milhões de litros de água. “Durante o período sem chuvas aqui no cerrado, que dura até cinco meses, praticamente não utilizamos água de poços artesianos ou de rios. A água captada das chuvas é tratada e entra no sistema para irrigar e fertirrigar as plantações”, descreve Edson. Esse processo de reaproveitamento já atingiu outro patamar, que pode ser descrito como uma reciclagem de fertilizantes. “Aproveitamos a solução drenada, aquela água com adubo, ou seja, com nutrientes, que a planta não absorveu, vai para outro reservatório. De lá, é reaproveitada em outras culturas. Assim fechamos um ciclo completo de aproveitamento de água de chuva”, diz o empresário.

Os resultados dessa preservação renderam a Edson a oportunidade de apresentar essa experiência durante o 8º Fórum Mundial da Água, realizado pela primeira vez no Brasil, no mês de março, em Brasília (DF). O convite partiu da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Esse reconhecimento nos encoraja a investir cada vez mais em tecnologias visando à sustentabilidade”, diz Edson, que sugere aos produtores pensarem a longo prazo quando estiverem avaliando a possibilidade de investir em algo assim. “Às vezes, uma chuva de 20 milímetros passa despercebida, mas se você tem a estrutura para captar essa água, isso significa 20 litros de água por metro quadrado de cobertura”, justifica.

Esse tipo de iniciativa fala diretamente com o consumidor, que também se sente parte do processo de conservação do meio ambiente. “Quando alguém compra um produto da Trebeschi, gerado com essa tecnologia de reúso da água de chuva, está contribuindo para um processo de preservação dos recursos naturais”, comenta Edson, com um ar de satisfação. Sobretudo porque toda a produção tem rastreabilidade. Portanto, basta o cliente fazer a leitura do QRCode nas embalagens dos produtos para ver em seu celular os motivos que deixam Edson tão entusiasmado.

 

EDSON TREBESCHI

45 anos, casado

Cargo: presidente

Faturamento: não divulgado

Composição dos negócios: produção de tomates, legumes, soja, milho e café

Área plantada: 1,2 mil hectares de tomate e 40,8 mil hectares de soja

Principal cliente: atende as mais diversas redes de varejo, como hipermercados, supermercados e lojas premium

Hobby: praticar esportes e pescar

TAGS: Edson Trebeschi, Hortifrutis, Tomates, Top Farmers