Zuckerberg dá no couro?

Há pouco menos de dois anos, uma imagem inesperada de Mark Zuckerberg correu o mundo. Ele estava em


Edição 13 - 06.03.19

Há pouco menos de dois anos, uma imagem inesperada de Mark Zuckerberg correu o mundo. Ele estava em meio a uma boiada em uma fazenda de gado de corte no estado americano de Dakota do Sul. Naquela época, seu objetivo era conhecer melhor os Estados Unidos e seu povo – e, para isso, uma passada pela América rural era fundamental. O fundador do Facebook, um declarado nerd com raízes bem urbanas, disse estar impressionado com o trabalho do produtor americano e com a força do agronegócio. Teria se encantado a ponto de investir no setor? Até hoje não se conhece nenhuma investida oficial do bilionário no lado tradicional do setor. Nos últimos meses, no entanto, seu nome começou a ser relacionado entre os possíveis investidores em startups que se propõem a desenvolver alternativas a produtos de origem animal – ou seja, concorrer justamente com aqueles que tanto elogiou em 2017.

Por enquanto, a associação é indireta. Zuckerberg é um dos investidores ligados ao fundo Iconiq Capital, criado na África do Sul pelo financista indiano Divesh Makan, hoje sediado na Califórnia, e já definido pela revista americana Forbes como o “secreto fundo bilionário de Zuck e amigos”, ou também como “uma obscura firma do Vale do Silício”. Logo no início de 2019, porém, o jornal inglês The Telegraph lançou luz sobre o Iconiq e Zuckerberg como dois dos principais financiadores da Modern Meadow, empresa com sede em Nova York que se propõe a produzir substitutos veganos para o couro e já se anuncia como a responsável pela disrupção de um mercado estimado em US$ 100 bilhões. Não houve confirmação, por parte de Zuckerberg, sobre a participação. A presença do Iconiq é certa: o investimento de US$ 40 milhões na primeira rodada de captação, em 2014, aparece no site na companhia. Outro acionista de peso é o chinês Li Ka-shing, considerado o homem mais rico de Hong Kong.


A Modern Meadow utiliza a bioengenharia para desenvolver leveduras que servem de matéria-prima básica para se chegar a um tipo de colágeno semelhante ao bovino, que dá origem a um tecido semelhante ao couro. Para o fundador e CEO da empresa, Andras Forgacs, o produto pode ser reproduzido em escala, dentro de fábricas especialmente construídas para esse fim, sem o abate de um único animal. “Não trabalhamos para criar um couro artificial, mas para sermos capazes de reproduzir tudo o que amamos nos materiais naturais”, afirma. “O nosso tecido será um material premium, de luxo.”

Segundo Forgacs, diferentes combinações das proteínas desenvolvidas em seus laboratórios podem dar origem a uma infinidade de materiais com propostas diferentes e com mais eficiência para seus clientes do que o uso de produtos convencionais. “Vacas não vêm no formado de um sofá ou de uma bolsa”, disse Forgacs ao The Telegraph.


Um contrato assinado com a indústria química alemã Evonik deve garantir a produção do “couro” da Modern Meadow em escala em uma fábrica na Eslováquia. O material foi batizado de ZOA e o lançamento foi feito com pompa com uma exposição no Museu de Arte Moderna (MoMa) de Nova York, em 2017. A mídia americana de moda e tecnologia cobriu com alarde, tratando o tecido como revolucionário, mas sem nenhuma menção aos possíveis investidores bilionários. Segundo Forgacs, parcerias com importantes grifes de moda e móveis já estão costuradas para que, em breve, o produto esteja disponível no mercado de luxo. E então, talvez, Zuckerberg comece a contabilizar mais alguns milhões em sua nada modesta conta.

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