Um novo polo para o enoturismo

A região gaúcha dos Campos de Cima da Serra, na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, ve


28.03.19

Irineu Guarnier Filho é jornalista especializado em agronegócio, cobrindo este setor há três décadas. Metade deste período foi repórter especial, apresentador e colunista dos veículos do Grupo RBS, no Rio Grande do Sul. É Sommelier Internacional pela Fisar italiana, recebeu o Troféu Vitis, da Associação Brasileira de Enologia (ABE), atua como jurado em concursos internacionais de vinhos e edita o blog Cave Guarnier. Ocupa o cargo de Chefe de Gabinete na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, prestando consultoria sobre agronegócio

A região gaúcha dos Campos de Cima da Serra, na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, vem se afirmando como um dos mais promissores terroirs para a elaboração de vinhos brancos, espumantes e tintos leves no país. Com altitudes entre 900 e 1.100 metros, invernos rigorosos, grande amplitude térmica no verão e boa ventilação o ano inteiro, a região proporciona uma maturação mais lenta das uvas (a vindima ocorre um mês após a da Serra Gaúcha, a apenas 150 quilômetros de distância), o que favorece a concentração de aromas e sabores e o alto nível de sanidade dos cachos. Sem exagero, pode-se dizer que alguns vinhos brancos locais (Chardonnay, Sauvignon Blanc, Viognier) já possuem uma identidade própria, distinta da que caracteriza outros rótulos elaborados com as mesmas castas no estado – exemplo da força do terroir.

É neste cenário luminoso, de campos suavemente ondulados e bosques nativos de araucárias, que a Vinícola Campestre inaugurou, neste mês, a sua nova sede. Maior produtora de vinhos de mesa (comum) e de sucos de uva e de maçã do Brasil nos últimos cinco anos, com uma produção anual de 25 milhões de garrafas (que deve aumentar para 30 milhões), a vinícola da família Zanotto ingressa agora com mais força no sofisticado mercado do vinho fino. Para tanto, investe numa gama de entrada que inclui frisantes, moscateis, espumantes, tintos (Merlot, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Tannat) e um branco (Chardonnay) levemente barricado que é um dos melhores do Rio Grande do Sul neste momento.

Com um investimento de mais de R$ 30 milhões, o novo projeto converteu um antigo frigorífico da região em um complexo enoturístico sem igual no estado. Logo que estiver funcionando a pleno, vinícola, loja de vinhos, restaurantes, salões de festas, vinhedos, lagos, áreas verdes para piqueniques e um museu do vinho serão algumas das atrações da nova unidade, erguida às margens da BR-116, em Vacaria – principal cidade da região e porta de entrada do estado para visitantes do resto do país.

A nova vinícola, que consumiu seis anos de trabalho para ser concluída, está situada numa área de 84 hectares. O belo projeto arquitetônico, que ocupa 23 mil metros de área construída, remete à região da Toscana, na Itália, com fachada de tijolos e alamedas de ciprestes. Deve estimular o enoturismo na região, que já conta com diversos produtores e outra bela vinícola, em estilo açoriano, a Fazenda Santa Rita, em Muitos Capões.

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“Temos que aproveitar nosso potencial climático e geográfico. Como estamos a cerca de mil metros de altitude e contamos com invernos rigorosos e verões quentes, esse é um clima ideal para se produzir bons vinhos”, afirma o diretor João Carlos Zanotto. Com 25 hectares de viníferas plantados, o enólogo da casa, André Donatti, conta que, além das tradicionais variedades internacionais, como Merlot, Pinot Noir e Chardonnay, a Campestre aposta também em castas italianas pouco cultivadas no estado, como Rebo e Sangiovese. Mais um diferencial em relação à Serra Gaúcha, que, embora colonizada por imigrantes italianos, tem um vitivinicultura baseada principalmente em castas de origem francesa.

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