Uma ideia que não pode decolar

O que seria do agribusiness sem a aviação agrícola? Certamente o dia a dia não seria fácil. Mas


03.07.18

Com 13 anos de experiência no mercado aeronáutico, o paranaense Tiago Dupim atuou como repórter, editor-executivo e editor-chefe de algumas revistas do setor. Atualmente, comanda a B2B Comunicação. Morou duas décadas em São Paulo e está há dois anos no Rio de Janeiro. Nas horas vagas (que são muito poucas) gosta de ouvir um bom rock’n roll, beber um bom vinho ou cerveja e acompanhar, mesmo que a distância, o Clube Atlético Paranaense, seu time de coração.

O que seria do agribusiness sem a aviação agrícola? Certamente o dia a dia não seria fácil. Mas parece que quem propõe, discute e aprova leis no país tem pouco conhecimento sobre isso.

Parte do estudo intitulado Aplicação Aérea de Defensivos Agrícolas – Impactos econômicos e sociais do banimento da atividade, que começou a ser divulgado semana passada, indica que a ausência da aviação no agro provocaria prejuízos incomensuráveis à economia brasileira.

Numa simulação até 2022, a perda na exportação de soja seria de mais de 500 milhões de toneladas. No algodão, uma queda de 1,7 milháo de toneladas (reduzindo a quase zero). No arroz, a diminuição seria de um acumulado de 172 milhões para apenas 4 milhões de toneladas nas exportações.

O estudo apenas reforça o quão sem sentido são algumas ideias que surgem por meio dos nossos mandatários. Recentemente, o deputado estadual Tadeu Veneri (PT) apresentou um projeto que pretende proibir a pulverização aérea de defensivos agrícolas nas lavouras do estado do Paraná. O argumento adotado pelo político para fundamentar o projeto parte de estudos nacionais e internacionais que, segundo ele, demonstram uma periculosidade de uso de agrotóxicos nessa modalidade.

Ora, mas, no caso, o avião é apenas a ferramenta, e certamente este não é o problema, mas sim a má utilização dela. Além disso, os mesmos defensivos aplicados por avião são usados também em aplicações terrestres. Há dosagens, métodos e momentos certos para aplicação. Nada é feito por acaso.

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A regulamentação da aviação agrícola no Brasil é extremamente rígida e exige das empresas do setor uma série de requisitos para entrar em operação. Entre eles, podemos citar a necessidade de uma equipe com um engenheiro agrônomo, um técnico agrícola com especialização em operações aeroagrícolas, um funcionário responsável pelo SGSO (Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional) e um piloto altamente qualificado. O voo na lavoura não é fácil, pois exige extrema perícia do piloto para voar em baixíssimas altitudes carregado de litros e mais litros de produtos químicos, com o agravante de operar geralmente em pistas com pouca estrutura.

Segundo a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), dos cerca de 70 milhões de hectares cultivados no Brasil atualmente (59 milhões de grãos, mais 9 milhões de cana-de-açúcar e 2,2 milhões de café), a aviação agrícola atua em torno de 25% das lavouras. Além disso, gera milhares de empregos direta e indiretamente.

A aviação agrícola brasileira atualmente é uma das mais desenvolvidas do mundo, tanto no que se refere à tecnologia como à segurança nas operações. Para um país que produz quase três safras por ano, deixar as aeronaves agrícola no chão é golpear o setor (e também o agronegócio) de maneira fatal. Ainda bem que muitas das elucubrações vindas dos políticos ficam apenas no papel.

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