26.06.18
*Colaborou Josiane Busatta
Na semana passada participei de um curso de formação de auditores em Bem-Estar Animal da PAACO (Professional Animal Auditor Certification Organization, realizado pela WQS) –, que é uma conhecida empresa de consultoria e auditoria para a indústria de carne nacional. O curso aconteceu em duas plantas frigoríficas do Estrela Alimentos, no interior de São Paulo.
A PAACO tem sede nos Estados Unidos e fornece treinamento e certificação de auditores e certifica auditorias de bem-estar animal. A organização foi fundada por experts em produção animal e associações e tem como principal mentora a professora Temple Grandin, autoridade máxima na Ciência do Bem-Estar Animal.
A NAMI (North America Meat Institute) tem uma estreita ligação e é certificada pelo programa de bem-estar animal da PAACO. Redes internacionais como Mc Donald’s, exigem que todos os seus fornecedores de carne sigam os protocolos e passem anualmente por auditorias certificadas pela PAACO.
Desde 2015 não acontecia um curso PAACO no Brasil. A edição deste ano foi muito significativa, pelos diversos fatores que lhes contarei a seguir. Pela primeira vez no país, por exemplo, foi ministrado um curso de bem-estar animal que inclui um programa exclusivo e detalhado relativo ao abate religioso judaico (Kosher) e com algum conteúdo que versa também sobre o abate religioso muçulmano (Halal).
O módulo foi idealizado pela professora Erika Voogd (à dir. na foto) – uma das mais destacadas auditoras de bem-estar animal dos Estados Unidos, que possui grande experiência auditando plantas com abate religioso. O conteúdo e a apresentação desse módulo foi realizado por mim, seguindo uma coletânea que fiz de artigos científicos produzidos pela professora Temple Grandin ao longo dos últimos 40 anos sobre o assunto, bem como diversos outros cientistas como I.M. Levinger e N. Gregory. O tema de auditoria em bem-estar animal foi inspirado no trabalho da professora Erika Voogd, que neste último ano tem sido um dos meus mentores na produção de conhecimento aplicado, e que no final de 2017 me conduziu por plantas especializadas em abate Kosher nos Estados Unidos com foco em BEA. Somei a isso o conhecimento adquirido nas leis judaicas que regem o abate Kosher, bem como a experiência em projetos e operações Kosher que tenho criado nos quase 19 anos de estudo e atuação no segmento. Foi uma grande responsabilidade apresentar parte de um programa ministrado por instrutores tão experientes e diante de um público muito qualificado.
A abordagem do abate religioso teve grande aceitação no grupo de 25 auditores em formação. Primeiro, porque até hoje não houve no país acesso a esse tipo de conhecimento num formato técnico, alinhado com a indústria moderna e com sólida fundamentação religiosa e científica. Segundo, porque o Brasil e os demais países do Mercosul acabam de entrar numa nova era na produção Kosher, onde religião, bem-estar animal, tecnologia e operacionalidade precisam se harmonizar, com a implantação obrigatória de boxes rotativos de contenção de bovinos que garantem as melhores condições de bem-estar animal no abate Kosher. E terceiro, porque o mercado confirma o potencial de curto prazo de expansão das exportações de carne Kosher para países como os membros da União Europeia, e, no futuro próximo, Estados Unidos. Como benefício adicional, há uma firme percepção de que os mercados internacionais de carne Halal passem a demandar novos patamares de conformidade, a exemplo do que vem desenvolvendo a Arábia Saudita em suas novas normativas sobre a produção de frango, com o desafio de integrar em alto nível o bem-estar, a religião e produtividade.
Como estudante, minha experiência foi ainda mais enriquecedora. Interagi com pessoas de diversas regiões do país e até da Bolívia. Fui colega de estudos de jovens e veteranos, graduandos e doutores, produtores de aves, suínos e bovinos, todos com um alto grau de comprometimento e valorização da oportunidade à qual tivemos acesso. O grupo desfrutou do conhecimento transmitido pela professora Erika Voogd (e da sua energia sui generis), não poucas vezes enriquecido pela tradução de Juliana Macedo e Rachel Galeno. Tivemos um aprendizado consistente dos assuntos regulatórios de BEA, com a dra. Leila Mussi.
Duas pessoas marcaram o ponto alto de toda esta vivência para o grupo, que foi intensa, cansativa e gratificante ao mesmo tempo. A profesora Collette Kaster (à esq. na foto), diretora executiva da PAACO nos Estados Unidos, que, junto com a professora Voogd, ministrou a maior parte do curso e foi responsáveis por formar novos auditores PAACO. A professora Kaster é dona de uma personalidade cativante, que equilibra empatia e autoridade e que surpreende por seu conhecimento, didática e simplicidade. Luciana Mena – da WQS – foi a espinha dorsal desse grande evento. Trabalhadora e cientista incansável, grande na sua modéstia, cuja generosidade ultrapassou os limites do cansaço e cuidou para que cada um dos estudantes tivesse o melhor aproveitamento possível.
Dedico esta coluna a todos os membros do curso, de quem trago bons ensinamentos a seguir, e ao Luiz Felipe da WQS, que esteve sempre brindando apoio a tudo o que foi preciso. Que pena que passou tão rápido!
Last, but not least, dedico a minha esposa, que abriu mão de ter-me a seu lado em seu aniversário para que eu pudesse realizar esta jornada que significa tanto na minha missão.
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TAGS: Indústria da carne, Universo kosher