14.06.18
Estive na Espanha na semana passada, quando o assunto mais comentado, em todos os cantos de Madrid, era a posse das ministras do Pedro Sanchez, o novo primeiro-ministro, bonitão e socialista. Das 17 pastas, 10 foram ocupadas por mulheres. Fui logo me interessando em saber sobre o Ministério da Agricultura e descobri que esta vai ser ocupada, agora, por um homem chamado Luis Planas.
Segundo me disse o espanhol que dividiu comigo um banco na Plaza Mayor (e não tirava o olho da minha
marmitinha saudável, humpf!), Planas “ainda” vai ter trabalhar em parceria com a ministra do Meio Ambiente, Teresa Ribera. Respondi “que bueno” me achando “a fluente em espanhol” e o ranzinza desatou a falar alto, bem bravo. Foi a hora de ligar o modo avião do cérebro e deixar o machista gastar energia à toa. Nem ligo, eu sorrio. Ofereci uma uva e ele saiu (será que tinha uma semente presa no meu dente?).
Consegui ler o jornal do dia horas depois, já no hotel. O homem estava certo. Pedro Bonitão separou algumas demandas que antes eram da Agricultura e as passou para o Ministério do Meio Ambiente: água, meio ambiente e mudanças climáticas. Tudo divididinho.
Até então, na Espanha, as questões agrícolas e ambientais caminhavam juntas. Nos últimos sete anos, elas recaíram sobre duas mulheres: Roza Aguillar e Isabel García Tejerina, ministras da Agricultura entre os anos de 2010-2011 e 2015-2016, respectivamente. Já entrevistei as duas (a Roza, em 2011, e a Isabel, em 2016) durante a abertura de uma megafeira de frutas e legumes que acontece anualmente em Madri, a Fruit Attraction. A Roza, era o tipo de “ministra-raiz”: chegou de tênis, estava com fome, comeu uma ameixa e limpou a boca com a mão e foi lá cortar a fita. A Isabel fazia mais a “ministra-nutela”, de salto, toda produzida, e muito educada. Foi lá e cortou a fita também.
O fato é que as duas mulheres da agricultura espanhola conseguiram, em alguns anos, transformar o setor em algo esplêndido. A Espanha se consolidou como um grande fornecedor de frutas e legumes para toda a Europa, América e Ásia. Foi lá que eu comi couve-flor roxa, melão insuportavelmente doce, maçã pink quadrada, e pude ter acesso a alguns projetos (de grandes multinacionais de sementes) cujos resultados só chegarão ao mercado em dois ou três anos. Ainda. O país, de repente, atraiu tecnologia, comida boa e diferente.
Por conta do trabalho das duas ministras, a Espanha também se abriu a novos mercados, incluive ao Brasil. Isso porque eles precisam abastecer o mercado europeu durante o inverno. A saída é importar frutas e legumes e distribuir. Roza e Isabel trabalharam bastante para conseguir manter o mercado abastecido, e ainda, atrair fornecedores sem perder a competitividade.
Os jornais espanhois apontaram que o maior desafio do Planas vai ser, exatamente, manter essa competitividade no setor de frutas e legumes. A Federação Espanhola de Associações de Produtores Exportadores de Frutas e Legumes (FEPEX) já solicitou ao novo ministro a aplicação de um marco regulatório que não gere distorções de concorrência efetiva na União Europeia e facilite o acesso aos novos mercados. A Federação das Indústrias de Alimentos e Bebidas (FIAB), em carta, também já pediu que ele siga a linha das antecessoras… e para completar, ele ainda vai ter que coordenar a Reforma da Política Agrícola Comum, o que inclui, a pedido da União Europeia, um corte direto de subsídios de 3,5% a 15% nos fundos de desenvolvimento rural espanhois.
Em outras palavras, um dos poucos homens do Pedro Bonitão vai ter que dançar miudinho pra dar continuidade ao trabalho de suas antecessoras.
Clique aqui para conferir todas as #ColunasPlant.
TAGS: Agricultura, Espanha, Poder Feminino