As estrelas, a eleição e o debate dos defensivos

O mundo da internet, assim como o da comida, não é para os fracos e, sem trocadilhos, é preciso t


21.06.18

Ibiapaba Netto, 42 anos, é jornalista e cursa o MBA de economia e gestão em relações governamentais na FGV. Trabalhou em alguns dos mais importantes veículos de comunicação do Brasil, tendo sido repórter no jornal “O Estado de São Paulo”, repórter e editor na revista Dinheiro Rural. Ao longo de sua carreira, se especializou na cobertura do agronegócio brasileiro, assim como na cobertura nas questões ligadas aos desafios para a produção de alimentos no mundo. Desde 2013 ocupa o cargo de diretor-executivo da CitrusBR.

O mundo da internet, assim como o da comida, não é para os fracos e, sem trocadilhos, é preciso ter muito estômago para aguentar tanta desonestidade intelectual em torno da discussão que instalou em torno do o PL 6299/02 que tramita na Câmara dos Deputados. Batizado pelos apoiadores como Lei dos Alimentos Mais Seguros e apelidado pelos detratores como o Pacote do Veneno, a discussão inaugura uma nova forma de pressão a parlamentares que tratam do assunto. Pela primeira vez, ações organizadas em redes sociais podem ter influência direta no resultado de uma votação de um projeto de lei que pode jogar por terra dois anos de um trabalho muito bem construído e como uma base científica bastante consistente.

Durante anos, para não falar a vida toda, a mídia teve para parlamentares e membros do governo o papel de curadora da opinião pública. Eram por meios das páginas de jornais, revistas, em reportagens da televisão que se construía o entendimento público sobre grandes assuntos. A mídia era, portanto, a arena onde os debates públicos aconteciam. Hoje essa lógica não funciona mais. A mídia passou a ser apenas uma das arenas -importante, é verdade -, mas com capacidade de engajamento muito inferior à das redes sociais, que se tornaram uma segunda, mais difícil e maior arena a se travar o debate público.

No caso específico do PL 6299/02, o movimento criado por ambientalistas apoiados por celebridades com grande poder de fogo nas redes sociais impõe um grande desafio ao agronegócio. Ao se analisar os nomes dos membros da Comissão Especial que trata da matéria, é possível verificar uma maioria bastante alinhada com as causas do campo. Mas em ano de eleição, o receio à execração pública impõe cuidados adicionais com a imagem, o que é compreensível.

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Além disso, a chamada “bancada ruralista” (que deveria se chamar bancada da comida) tem se desgastado em uma série de assuntos espinhosos como o Funrural e o licenciamento ambiental. A lei dos Alimentos Mais Seguros, fundamental para a modernização do setor, sofre com o desgaste de outras batalhas, algumas já travadas e outras em curso e, ainda, conta com fogo pesado da turma do “nem nem” – nem produz, nem conhece.

Caso aprovado, o texto volta para o Senado, onde a batalha certamente continuará, provavelmente, na próxima legislatura, visto que, por incrível que pareça, o calendário legislativo se aproxima do fim. Com a Copa do Mundo os trabalhos diminuem e tão logo acabe o mundial estaremos a dois meses das eleições. Ninguém, em sã consciência, tomará para si o risco de levantar bandeiras polêmicas e correr o risco de execração pública às vésperas do pleito. Passada a eleição, uma parte do Congresso será renovada e com isso os pactos de lealdade serão alterados.

Pode até ser que se consiga formar o ambiente necessário para que o projeto seja aprovado este ano na Câmara, mas a batalha continuará cada vez mais dura. Interessante notar que, nesse novo mundo, celebridades fazem as vezes de instituições, falam em novo do povo e para povo. Exercem seu sagrado direito de opinar, mas também mobilizam pessoas em torno de causas que, muitas vezes, defendem até porque acreditam ser o certo a fazer, mas não compreendem o impacto de suas ações na vida real. Logo, a velha batalha da comunicação, que tanto se fala no agronegócio, pode ser mais necessária como nunca porque, como todos sabem, aquele que não está sentado à mesa pode acabar indo para o prato.

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