28.06.18
*Com Leandro Silveira, do IOP
Ao visitar o Instituto Onça Pintada (IOP), em Mineiros (MS), imaginei que iria visitar o Parque das Emas, conhecido parque nacional, para ver animais da fauna brasileira. Qual não foi minha surpresa quando percebi que passávamos várias vezes no portal do parque, mas sempre a caminho de fazendas. “Não vamos entrar no parque?”, perguntei. Foi então que Leandro Silveira, biólogo e fundador do IOP, adentrou no portal e me mostrou a estrutura simples do parque. Explicou, então que os animais nativos estavam vivendo cada vez mais dentro das propriedades rurais privadas.
Que paradoxo!, pensei. O parque queima quase todos os anos e o governo não tem verba para manter um efetivo de manutenção e fiscalização para atender as demandas da Unidade de Conservação. Assim, a fauna é caçada no seu interior, atropelada nas estradas vicinais ou morta em incêndios.
Em contrapartida, nas fazendas da região a produção de alimentos é abundante: o milho, a soja e a cana atraem os queixadas. As onças vem atrás dos queixadas e também dos bezerros. Pensando agora parece até óbvio: onde você escolheria para viver?
Os produtores fizeram grandes investimentos nas suas fazendas e não podem se dar ao luxo de permitir que um incêndio prejudique a produtividade e o seu resultado financeiro. Ao cumprir a legislação ambiental, as Reservas Legais e APPs conservadas (ou em processo de regularização) servem como abrigo para os animais. Outro fator que estimula esse cuidado é o alto gasto com multas e embargos, pagamento de advogados, técnicos florestais, etc… Por isso ou por consciência, protegem suas florestas e a biodiversidade hoje é preservada nas fazendas.
Contei a ele de nossa experiência com a Liga do Araguaia, um movimento de iniciativa de pecuaristas do médio Vale do Araguaia, no Mato Grosso, para a intensificação sustentável da pecuária e regularização ambiental. Nessa região, a perda crescente de bezerros abatidos pelos felinos presentes nas fazendas é um assunto preocupante. Animal localizado no topo da cadeia alimentar, as onças são um forte indicativo da presença das demais espécies da fauna local. Leandro então sugeriu a colocação de câmeras ativadas por sensores de movimento para comprovar a existência dos animais. Passados dois meses, recolhemos as câmeras e fui eu, cheio de expectativa, assistir aos vídeos. Leandro alertou que, às vezes, demorava muito tempo para aparecer uma onça pintada. Para minha surpresa havia muitos felinos: pintadas, pardas, gato maracajá e jaguatirica.
Ao mostrar para amigos compreendi o poder dessas imagens. Acostumado a discussões intermináveis com pessoas inteligentes e engajadas, sempre tenho dificuldade em explicar que o Brasil é uma potência agroambiental, e que o agro não é inimigo do meio ambiente. A lavagem cerebral foi tão forte nos últimos dez anos que as pessoas simplesmente não reconhecem que temos mais de 60% do território brasileiro com vegetação nativa riquíssima em biodiversidade.
Com os vídeos no celular eu simplesmente mostro aos leigos que se mostram interessados e começam a perguntar: “Tem mata nas fazendas?” “Tem onça nessas matas?” “O Brasil tem muita floresta?” A estratégia foi tão eficiente que outros produtores da Liga do Araguaia também quiseram registrar os animais silvestres em suas fazendas. Esses vídeos encontram-se disponíveis nas redes sociais para tentar mostrar ao cidadão comum a realidade do campo, pouco conhecida nas cidades.
Enfim… uma forma de mostrar a verdade sem gerar radicalismo, desgaste e fogo amigo. Afinal somos todos brasileiros e deveríamos estar unidos mostrando nossas qualidades agroambientais e lutando contra os verdadeiros inimigos, que nem conseguimos identificar…
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