Edição 5 - 17.09.17
Por Clayton Melo/Foto: Fábio Melo
Foi o assunto da semana nas movimentadas ruas da fazenda onde se realiza a mais relevante feira de tecnologia agrícola do País. E o tema que movimentou a manhã da quarta-feira 3 de maio no auditório da Arena do Conhecimento, o novo espaço criado para sediar debates no coração da Agrishow, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo foi como tecnologias como inteligência artificial, robótica e Internet das Coisas vão revolucionar as máquinas agrícolas e, por consequência, o modo como produzimos? Com a plateia lotada, mais de 200 pessoas discutiram o tema no evento STARTAGRO AGRISHOW, principal atração do dia na Arena. No palco, especialistas, empreendedores e produtores revelaram um cenário tão desafiador como promissor. E deixaram bem claro que a “Revolução das Máquinas”, assunto que norteou os debates, não é coisa para o futuro, mas uma realidade com a qual todos os envolvidos nas cadeias produtivas do agronegócio precisam estar conectados.
Uma demonstração clara disso pôde ser vista logo no primeiro painel, intitulado justamente “A máquina do futuro: quando algoritmos, tratores autônomos e Internet das Coisas se encontram”. Enquanto no lado de fora, a menos de 100 metros da Arena do Conhecimento, os visitantes podiam admirar um protótipo do trator autônomo Case IH, da montadora CNH, os debatedores deixaram claro que a capacidade das máquinas de executar tarefas com um bom nível de autonomia já é rotina em uma série de propriedades Brasil afora. Foi o que demonstrou Victor Campanelli, diretor da AgroPastoril Paschoal Campanelli, um dos maiores confinadores de gado do País e escolhido como um dos Top Farmers 2017 pela revista PLANT PROJECT. “Trabalhamos com tecnologias como essa há alguns anos, em todos os níveis da produção. O importante, porém, é que toda a cadeia esteja automatizada, não apenas uma máquina”, explicou. Ao seu lado, Jorge Leal, CEO da Agres, explicou que tecnologias vendidas por sua empresa permitem transformar qualquer máquina, de um simples trator a grandes colhedoras, em equipamentos autônomos, capazes de realizar sozinhos uma série de tarefas programadas pelos produtores após analisar os dados fornecidos por senso res disponibilizados pelo sistema. Por trás dessa tecnologia, fazendo o processamento de todos os dados e gerando recomendações para o produtor está o supercomputador Watson, da IBM, uma gigante da tecnologia que, desde o início deste ano, colocou os dois pés dentro das fazendas brasileiras. “Já estávamos presentes com soluções para o agro há alguns anos, mas há cerca de um mês oficializamos a criação de uma iniciativa exclusiva para criar uma plataforma de desenvolvimento de novas tecnologias para o setor”, disse Luiz Otávio da Fonseca, líder da área de Agronegócio Digital da IBM, também presente no painel.
A reunião de gente com perfis diferentes, inclusive engenheiros e empreendedores que estão descobrindo as oportunidades oferecidas pela novíssima agricultura digital foi uma das marcas do evento STARTAGRO e da edição 2017 da Agrishow. Startups de base tecnológica voltadas para o agro ganharam espaços exclusivos na feira, assim como nos debates. Duas delas puderam expor seus cases no palco da Arena: a Scicrop, que desenvolveu um sistema de apoio à gestão das propriedades baseado em inteligência artificial, e a Horus, que produz drones utilizados no monitoramento de lavouras e propriedades. Um tema recorrente do setor e que pode ser um limitador na adoção de novas tecnologias também foi debatido no evento: a conexão à internet nas propriedades rurais. O segundo painel da manhã reuniu nomes como Fernando Martins, CEO da Agrotools e ex-presidente da Intel no Brasil, Francisco Jardim, sócio da SP Ventures, e Leonardo Mariote, diretor da área de Tecnologias de Conectividade do CPqD, sob a mediação de José Augusto Tomé, sócio da AgTech Garage. Todos foram unânimes em apontar essa questão como um desafio a ser enfrentado nos próximos anos, mas ao mesmo tempo mostraram que a limitação pode ser enfrentada com a utilização de tecnologias inovadoras, que dispensam a cobertura de sinais 3G e 4G das operadoras de telefonia nas zonas rurais. O CPqD, por exemplo, está testando um sistema de conexão baseado em antenas de rdiofrequência em conjunto com a Usina São Martinho. “As empresas que querem prosperar nesse mercado têm de ter em mente que não podem contar com internet, precisam ser capazes de oferecer soluções que não dependam dela”, afirmou Martins.
O encerramento do evento STARTAGRO AGRISHOW foi marcado por um emocionante diálogo entre duas gerações do agro. Moderado pelo diretor executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto, o painel reuniu um nome consagrado do setor sucroenergético, Maurilio Biagi Filho, presidente do grupo Maubisa, e uma jovem empreendedora, Danielle Fonseca, fundadora da startup Uller Agro, que se define como o “Uber das Máquinas”. O entusiasmo com que Danielle explicou seu modelo de negócios baseado no compartilhamento de máquinas agrícolas contagiou o veterano empresário – que se emocionou ao descobrir que havia sido amigo do avô da empreendedora, o ex-vice- presidente da República Aureliano Chaves. “É um negócio que tem tudo para dar certo”, disse Biagi, que se confessou um pouco assustado com a velocidade com que as novas tecnologias têm chegado, não apenas no campo.
LEIA TAMBÉM: As máquinas que colhem dados
TAGS: Agrishow, AgTech, Inovação, StartAgro, Startups, Tecnologia