Floresta tem valor?

Cresci praticamente dentro de uma fazenda. Quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescess


30.04.18

Ativista agroambiental e empresário, Caio Penido é pecuarista no Mato Grosso e trabalha na articulação da “Liga do Araguaia” onde lidera projetos de pecuária sustentável: Projeto Carbono Araguaia, Projeto Campos do Araguaia, Projeto Garantia Araguaia e parceria com a EMBRAPA Gado de Corte, entre outras atividades.

Cresci praticamente dentro de uma fazenda. Quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse eu dizia com orgulho: vaqueiro! Minha rotina com meu irmão era amansar cavalos, tocar o gado, trabalhar no curral, pescar, nadar no rio… Isso tudo estava integrado e para mim era uma coisa só!

Hoje, vejo um mundo dividido entre produtores e ambientalistas, ambos confiantes em seus argumentos e vivendo com paixão uma batalha maniqueísta e ultrapassada, em que todos saem perdendo. Com o aumento da produtividade poupadora de terras e a implantação de um código florestal moderno e conservacionista, o Brasil se projeta como uma potência com vocação Agroambiental. A expectativa agora é avançarmos no cumprimento da lei para que o equilíbrio seja assegurado.

Hoje o Brasil detém mais de 60% do seu território com cobertura vegetal nativa. Um terço dessa vegetação e da biodiversidade dentro dela está no interior das propriedades rurais privadas. Cuidar deste ativo custa caro e a conta vem sendo paga apenas pelo produtor! Em 2017, no Vale do Araguaia – MT, presenciei uma batalha onerosa e intensa para que um foco de incêndio não se espalhasse para as fazendas, o que representaria prejuízo alto para todos. As onças, cujo desafio de convivência com a criação estamos enfrentando, são responsáveis pelo abate de muitos bezerros. E ainda temos um alto custo com cercas, monitoramento de áreas, limpeza de aceiros e a contratação de técnicos e advogados ambientalistas. O Brasil e o produtor rural estão gastando e imobilizando parte do seu patrimônio em prol do meio ambiente e não são reconhecidos nem compensados por esse trabalho.

Países desenvolvidos, que abriram mão de boa parte de seus ativos ambientais para se tornarem ricos, devem agora nos ajudar a valorizar nossas florestas através do apoio a implantação de mecanismos de pagamento por serviços ambientais (PSA) e de compensação ambiental. Entre outras funções, as florestas liberam oxigênio e umidade, garantem um estoque de carbono que não irá para a atmosfera e asseguram a possibilidade futura de pesquisas botânicas e medicinais.

Então eu me pergunto: se essa floresta tem mesmo valor para o mundo, por que o Brasil não é reconhecido e recompensado como grande guardião desses recursos?

Nosso desafio é conservar o meio ambiente e criar mecanismos que tangibilizem os atributos de nossos ecossistemas naturais, transformando-os em valor e vantagem competitiva para o produtor rural e para nosso país. Se esse meio ambiente é importante, seu valor precisa ser concreto, mensurável e monetizado.

A conclusão é que devemos vencer o complexo de vira-latas, repudiar o estigma de predadores do meio ambiente ao qual querem nos associar e mostrar para o mundo que somos uma grande nação e um caso de sucesso: somos uma Potência Agroambiental!

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