Os desafios da agricultura na Índia

Por Hemendra Mathur Sócio do Bharat Innovation Fund (Índia) Em 2040, a população mundial será d


Edição 6 - 16.10.17

Hemendra Mathur

Por Hemendra Mathur

Sócio do Bharat Innovation Fund (Índia)

Em 2040, a população mundial será de aproximadamente 9 bilhões. Significa dizer que haverá cerca de mais 2 bilhões de pessoas para alimentar nos próximos 25 anos, o que aumentará a tensão na agricultura em nível global. Além disso, a pecuária e os biocombustíveis colocarão mais pressão sobre a demanda de commodities agrícolas.

Com a demanda tendendo a aumentar, a sustentabilidade na extremidade do abastecimento precisa ser abordada com alta prioridade, dado o encolhimento da área cultivável para agricultura e produções estagnadas para a maioria das safras. As mudanças climáticas também afetam a disponibilização de recursos naturais, que podem, no futuro, reduzir a possibilidade de produção agrícola em determinadas regiões.

Como a agricultura na Índia está posicionada para enfrentar esse desafio? Com acesso a uma grande base de recursos naturais, com 160 milhões de hectares de terreno cultivável, a maior população pecuária no mundo e condições agroclimáticas diversas, não há dúvidas de que ocupa posição favorável para cuidar da demanda crescente por alimentos em nível nacional e global.

No entanto, a sustentabilidade da agricultura indiana será desafiada pela redução no número de fazendas operacionais. A participação ativa do agricultor na agricultura está se reduzindo, tanto devido à menor remuneração quanto à falta de previsibilidade de renda. O crescente desnível entre o terreno cultivável disponível e o terreno cultivado operacional real é alarmante no contexto de segurança alimentar, bem como na viabilidade de cultivar como uma profissão na Índia rural. A sensibilidade da agricultura indiana às mudanças climáticas (especificamente chuvas e temperatura) também adiciona incerteza à agricultura indiana para alimentar a população crescente.

O sucesso e a sustentabilidade da agricultura estão no centro do crescimento econômico indiano. Tornar a agricultura uma ocupação viável para milhões de agricultores é a necessidade do momento. Além da meta de dobrar a renda do agricultor a cada cinco anos (conforme definido pelo primeiro-ministro Narendra Modi), outra meta importante deve ser manter um número suficiente de agricultores e trabalhadores significativamente empregados na agricultura.

A sustentabilidade do setor de agronegócio indiano (incluindo agricultura, pecuária e beneficiamento de alimentos) é também crucial para impulsionar a economia a uma trajetória de crescimento de 8% a 10% ao ano. Pode-se argumentar que a contribuição de agricultura e beneficiamento de alimentos combinados não tem muito peso no PIB da Índia (cerca de 19%) — o crescimento de 10% desse setor contribuirá efetivamente para 1,9 ponto percentual no crescimento da economia. No entanto, o impacto real desse crescimento pode ser muito maior, visto que esse setor tem o efeito multiplicador máximo (quando comparado com indústria e serviços) pelos seguintes motivos:

  • O crescimento na agricultura indiana significa mais renda para lares rurais (cerca de 167,8 milhões), levando a mais consumo.
  • Mais produção, incluindo grãos, legumes, vegetais, leite etc., pode diminuir a inflação sobre os alimentos, reduzindo assim a lacuna entre o PIB real e o nominal.
  • A alta intensidade de empregos na cadeia de valores da agricultura (cerca de dois empregos diretos e dez indiretos para cada milhão de rúpias investido) será um grande elemento positivo para a geração de postos, principalmente para trabalhadores sem formação e com formação parcial em cidades menores e áreas rurais.
  • Produtos agrícolas contabilizam 10% das exportações da Índia. O excedente de produção implica em melhor oportunidade de exportação (especificamente em categorias como condimentos, camarões, arroz, chá, vegetais e frutas), ajudando a reduzir o déficit comercial da Índia.
  • Por último, mas não menos importante, a meta atual do governo de dobrar a renda dos agricultores nos próximos cinco anos não pode ser alcançada sem o crescimento em dígitos duplos na economia agrária.

 

Igualmente importante é alcançar tal número de forma sustentável e igualitária. Há três importantes dimensões de sustentabilidade na agricultura indiana:

  • Nutrição do solo: melhoria da produtividade através do uso otimizado de recursos naturais, incluindo solo e água. O uso excessivo e inapropriado de fertilizantes, que favorece o consumo de ureia, está impactando negativamente a capacidade do solo de absorver e reagir a nutrientes nos fertilizantes e está, com isso, reduzindo a produtividade a longo prazo.
  • Renda agrícola: para que a agricultura seja sustentável, a remuneração dos agricultores precisa aumentar, conforme discutido acima. A renda média do agricultor indiano é de cerca de 6.000 rúpias (aproximadamente US$ 100) ao mês. No entanto, a falta de articulações de mercado, a dominância de intermediários e a falta de crédito institucional estão tornando a economia agrícola inviável para os agricultores. A agricultura é um negócio na Índia em que o abastecimento, a demanda e os preços são imprevisíveis, especialmente em virtude da falta de dados tempestivos precisos e diversos intermediários.
  • Mudança climática: é importante observar que mais de 60% da área cultivada na Índia é alimentada pela chuva, tornando-a altamente vulnerável a mudanças induzidas pelo clima nos padrões de precipitação. Mais de 75% dos legumes, 66% das oleaginosas e 45% dos cereais crescem sob as condições de precipitações. Precipitações erráticas e não tempestivas, bem como secas (como testemunhado em 2014 e 2015) impactaram negativamente a economia agrária. Alguns dos problemas cruciais da mudança climática para a agricultura incluem a redução na fertilidade do solo, maior risco de pestes e doenças, escassez de água e menor produção, com implicações resultantes para a vulnerabilidade da subsistência, pobreza, desnutrição e saúde.

Há uma gama de potenciais respostas de adaptação para mitigar esses riscos. Para o produtor agrícola, elas incluem boas práticas agrícolas, recursos e gestão de fazendas, avanços tecnológicos em variedades resilientes ao clima e sistemas de produção, acesso tempestivo ao crédito, gerenciamento de riscos (incluindo produtos e marketing inovadores de seguro) e acesso à infraestrutura de agricultura e marketing.

 

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