O grão vale mais com tecnologia 

Soluções digitais reduzem perdas na pós-colheita e aumentam a rentabilidade dos produtores
Edição: 51
3 de novembro de 2025

Por Eduardo Tedesco 

O Brasil segue ampliando sua posição como potência agrícola global, colhendo safras recordes ano após ano. Mas, por trás dos números grandiosos, o setor ainda convive com um gargalo que impacta diretamente a rentabilidade: as perdas pós-colheita. Falhas no armazenamento e, sobretudo, a dificuldade de controlar a umidade dos grãos respondem por boa parte desse desperdício. O desafio abriu espaço para um mercado em expansão, o de tecnologias de precisão que permitem reduzir perdas, aumentar a previsibilidade e assegurar qualidade no produto entregue. Sistemas digitais de monitoramento em tempo real e medidores automáticos de umidade já estão transformando a rotina de propriedades rurais. 

Foi a busca por eficiência que levou a Agrícola Romero, no interior do Paraná, a testar, durante a última safra de milho, o Sistema 999DRY, desenvolvido pela Motomco, empresa de origem canadense e líder no mercado brasileiro de medidores de umidade de grãos. O equipamento promete automatizar o controle do processo de secagem, garantindo maior precisão e rastreabilidade. Os resultados surpreenderam: em pouco mais de dois meses de uso, entre junho e agosto de 2025, a propriedade obteve uma economia direta de R$ 40,6 mil, somando redução de custos de mão de obra e menor consumo de lenha. O secador, com capacidade de 100 toneladas por hora, operou durante 764 horas, processando mais de 500 mil sacas de milho em condições desafiadoras, com índices de umidade variando entre 30% no início da safra e 17% no final. 

Antes, o monitoramento era manual, com coleta de amostras a cada 30 minutos, exigindo cerca de oito horas diárias de dedicação exclusiva. Com a automação, esse custo foi eliminado, resultando em uma economia de R$ 5,5 mil no período. Outro ganho veio do consumo de energia: o 999DRY proporcionou um aumento médio de 8% na eficiência da queima de lenha, representando 251 m³ a menos de combustível consumido. A economia não foi apenas financeira, mas também operacional, com redução do desgaste do equipamento e menor emissão de poluentes. 

O sistema realizou 33.840 medições automáticas de umidade ao longo da safra, identificando 388 ciclos de secagem, com duração média de 1h27min cada um. Para o produtor Leonardo Romero, a diferença foi imediata: “Com o monitoramento, passamos a ter leituras de umidade a cada minuto. Isso tornou o processo muito mais dinâmico, preciso e seguro. Não dependemos mais apenas da coleta manual e a equipe pôde se concentrar em atividades estratégicas”. 

A meta da propriedade era armazenar o milho com umidade de 16%, ligeiramente acima do padrão comercial de 14%, como forma de ampliar a flexibilidade sem risco de deterioração precoce. O sistema se mostrou eficaz nesse ponto: 85,7% das leituras ficaram dentro ou acima do intervalo ideal, evitando secagem excessiva e desperdício de energia. O 999DRY foi projetado para ser modular e adaptável a diferentes estruturas – secadores, silos, moegas e expedições. Além de medir continuamente a umidade, também monitora temperatura e densidade dos grãos na entrada e saída do processo, gerando um histórico preciso de cada carga. Esses dados alimentam o SGU (Sistema de Gestão de Unidades), software da Motomco que consolida as informações em dashboards, planilhas e relatórios. Com isso, o gestor passa a ter uma visão em tempo real do desempenho da operação, facilitando decisões rápidas e melhorando o planejamento. 

Segundo o engenheiro agrônomo Roney Smolareck, da Motomco, a experiência na Agrícola Romero reforça a viabilidade econômica da solução: “O estudo comprova que o 999DRY alia redução de custos diretos à melhoria na gestão dos recursos. A operação se torna mais ágil e confiável, mesmo em cenários de grande volume e variação de umidade.”. A gerente de Marketing da empresa, Manoella Rodrigues da Silva Del Sant, acrescenta que o diferencial do sistema está no controle em tempo real: “Ele coleta amostras automaticamente, durante todo o fluxo, com medições a cada minuto. Isso permite decisões mais inteligentes e ágeis em todas as etapas do processo”. 

Com capacidade estática de 160 mil sacas distribuídas em quatro silos, a Agrícola Romero precisou administrar um fluxo três vezes maior que sua capacidade de armazenagem durante a safra. Nesse contexto, o sistema de monitoramento contínuo se mostrou decisivo para evitar gargalos, garantir qualidade e assegurar a rentabilidade da produção. 

A experiência reforça um ponto central: se o Brasil já se destaca pela produtividade no campo, o próximo passo está em agregar valor por meio da tecnologia na pós-colheita. Reduzir perdas, garantir qualidade e oferecer rastreabilidade são caminhos para transformar safras recordes em ganhos ainda mais consistentes. 

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