Por Marco Damiani
A maior vitrine global de soluções sustentáveis está aberta para o agronegócio brasileiro. Na COP30, que será realizada em novembro em Belém, empresas nacionais terão a oportunidade de se conectar com líderes de governo, executivos de grandes grupos internacionais e formadores de opinião que influenciam os principais mercados consumidores do mundo. É um momento crucial para firmar parcerias e atrair investimentos em cadeias produtivas de baixo carbono.
Um estudo da consultoria Fundamento, intitulado “Na Trilha da COP: Uma visão corporativa dos desafios climáticos”, mostra que 72% dos 518 executivos consultados acreditam que a conferência aumentará o protagonismo do Brasil em soluções verdes. Entre os entrevistados, 60% planejam participar do evento como ouvintes ou expositores de seus próprios casos de sustentabilidade.
A delegação brasileira estará munida de bons exemplos. “Vamos mostrar sustentabilidade na pecuária, tecnologias para recuperação de pastagens, cultivo de grãos com menor emissão de carbono, agroenergia, fruticultura sustentável e a cadeia do café”, afirma Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Para Marcos Da-Ré, diretor do Centro de Economia Verde da Fundação Certi (Centro de Referência de Tecnologias Inovadoras) , o encontro da ONU será um divisor de águas na atualização das demandas globais por soluções produtivas sustentáveis, especialmente na produção de alimentos. “Essa é uma oportunidade única de os produtores brasileiros estarem frente a frente com tomadores de decisões do mundo inteiro”, diz ele. “Quem perder essa oportunidade está perdendo uma chance de se alinhar ao contexto que vai ser a tendência do futuro.”

Um dos principais nomes brasileiros em termos de proteção da floresta é a Agropalma, empresa referência mundial na produção sustentável de soluções com óleo de palma. Com sede no município de Tailândia (PA), a companhia não apenas mantém 64 mil hectares de reserva florestal preservada como também investe em tecnologias de monitoramento climático e prevenção de incêndios que estão transformando a gestão ambiental na Amazônia.
Em parceria com a Climatempo, maior empresa de meteorologia e consultoria climática da América Latina, a Agropalma implementou o sistema SMAC (Sistema de Monitoramento e Alerta Climatempo). A plataforma fornece previsões climáticas em tempo real e alertas precisos sobre eventos extremos, como queimadas – uma inovação que faz a diferença na proteção da floresta. “Diferentemente de outras plataformas públicas, o SMAC direciona e fornece informações específicas sobre queimadas nas nossas áreas agrícolas e de reserva”, diz Anderlon Andrade, coordenador técnico em Agricultura de Precisão da Agropalma.

O sistema já conta com 16 pontos de monitoramento no estado do Pará, sendo oito dentro da propriedade da empresa e outros oito em municípios estratégicos como Acará, Baião, Cametá, Igarapé-Miri, Mocajuba, Moju, Tailândia e Tomé-Açu. Cada estação cobre um raio de até 10 quilômetros e envia, automaticamente, alertas sobre focos de calor detectados via satélite, que são respondidos por brigadistas treinados e equipados com caminhões-pipa, tratores de esteira, bombas costais e câmeras de vigilância. “Manter o compromisso com a sustentabilidade é uma das prioridades da Agropalma, e isso inclui contribuir com a Amazônia de pé. Por isso, identificar de forma rápida um incêndio, esteja ele dentro dos nossos limites ou não, e combatê-lo é uma parte importante dos nossos esforços”, afirma Caio Rodrigues, engenheiro ambiental da empresa.
A tecnologia da Climatempo se mostra ainda mais crucial durante o verão amazônico, entre julho e novembro, quando as temperaturas sobem e as chuvas diminuem, criando o ambiente ideal para queimadas. Segundo Eliana Gatti, executiva da Climatempo Infra, “o agronegócio não olha apenas as informações momentâneas, mas sim o longo prazo”, o que torna a personalização dos dados uma ferramenta essencial. Além dos benefícios ambientais, o sistema impacta diretamente a produtividade e o planejamento agrícola. “A produção do óleo está diretamente relacionada ao clima”, diz Andrade. “Antes da implementação desse projeto, as informações eram imprecisas, baseadas somente em dados do passado utilizados para tentar prever o comportamento futuro do clima. A SMAC nos fornece informações a respeito do futuro com base na análise do passado, mas com foco nos dados meteorológicos fornecidos por satélites.”
A Agropalma também compartilha os dados do SMAC com pequenos produtores (374 agricultores familiares e 63 integrados) que participam do seu Programa de Agricultura Familiar e Integrada. O objetivo é capacitá-los a proteger suas áreas contra incêndios e melhorar o planejamento do cultivo. As iniciativas fazem parte da estratégia de desenvolvimento social da companhia, que visa gerar impacto ambiental positivo e fortalecer a segurança alimentar e produtiva das comunidades locais.

O Brasil se tornou palco de iniciativas importantes de preservação. A 3Tentos, comercializadora de grãos e insumos, levará à COP o seu Selo Carbono, programa que já beneficiou mais de 400 propriedades no Rio Grande do Sul. O projeto promove práticas regenerativas e reduziu a pegada de carbono da soja para abaixo das médias nacional e global. Também é notável a rede ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), que já cobre 17,4 milhões de hectares no Brasil. “A integração agrega valor à produção e dispensa desmatamento, basta recuperar áreas degradadas”, diz Francisco Matturro, presidente da rede que reúne gigantes como Bradesco, John Deere, Suzano e Minerva Foods.
No terreno internacional, corporações ligadas diretamente ao agro, e também companhias especializadas em logística, infraestrutura, mobilidade e finanças já confirmaram presença no evento. Entre elas, Bayer, Siemens, Toyota, Mapfre e Microsoft, cujos planos serão apresentados pelo fundador Bill Gates. Em um movimento de aproximação com a população do Pará, o chefe de Sustentabilidade da PepsiCo, Jim Andrew, organizou um encontro pessoal com lideranças indígenas para troca de informações sobre práticas sustentáveis.
Do lado brasileiro, a maior estrutura para a representação comercial do agronegócio na COP30 está sendo montada pela Embrapa. A estatal irá estabelecer uma AgriZone, “a casa da agricultura brasileira”, para apresentação de soluções sustentáveis em sua sede Amazônia Oriental, de 3 mil hectares, a menos de 2 quilômetros da área de reuniões da Conferência da ONU. “Vamos mostrar desde a produção sustentável de culturas regionais até soluções das grandes empresas”, diz o chefe da Embrapa em Belém, Walkymário Lemos. “Abrimos um edital para os produtores interessados em apresentar suas práticas de sustentabilidade participarem dos painéis que iremos promover na COP”, acrescenta.
A presença brasileira na COP30 é uma chance de ouro para mostrar ao mundo que o agronegócio do País produz exemplos concretos de sustentabilidade, inovação e regeneração ambiental. Com tecnologia, parcerias estratégicas e envolvimento comunitário, é possível manter a floresta em pé e gerar desenvolvimento.





