Etanol de milho ganha protagonismo

Conferência UNEM DATAGRO debate o avanço dos biocombustíveis no Brasil, os desafios regulatórios e as oportunidades trazidas por novos mercados internacionais
Edição: 49
25 de agosto de 2025

Por Ronaldo Luiz

Cuiabá, capital do Mato Grosso, recebeu no dia 3 de abril a 2ª edição da Conferência Internacional UNEM DATAGRO sobre Etanol de Milho, evento que já é referência para toda a cadeia produtiva. A conferência reuniu mais de 600 pessoas, entre as quais estavam líderes setoriais, produtores de grãos, usineiros, investidores e autoridades, que puderam explorar o papel crescente do etanol de milho na matriz energética do Brasil.

Entre autoridades e lideranças setoriais presentes estavam o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro; o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari; o presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco; o diretor do Dipov-SDA do Mapa, Hugo Caruso; o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes; e o secretário adjunto de Comércio e Relações Internacionais do Mapa, Marcel Moreira.

Representantes de diversas empresas que atuam no setor também participaram do evento, como Luciane Bachion, da Agroicone; Rafael Ceconello, da Toyota Brasil; Juliana Albertengo, da Bayer; Gabriel Fonseca, da VLI Logística; Gabriel Viana, da John Deere; Daniel Lopes, da FS; Christopher Davies, da Inpasa; e Fabricio Rocha, da Novonesis.

Os painéis abordaram tanto o arcabouço legislativo que o Brasil possui para liderar a transição energética global como opções de financiamento, passando por todas as etapas da indústria de etanol de milho e a necessidade de abrir novos mercados para o biocombustível e o DDG. Confira os destaques do encontro.

A importância do etanol de milho

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, classificou o programa brasileiro de etanol como exemplo para o mundo. “O campo se tornou a nova Petrobras. A nova Opep (em alusão à organização que reúne os principais países produtores de petróleo) é o campo brasileiro.

Fávaro ressaltou a importância do encontro para o fortalecimento dos biocombustíveis no País. “Este é um evento de extrema relevância, não apenas para reconhecer a importância dos biocombustíveis, especialmente o etanol, mas também para debater soluções que garantam eficiência e competitividade ao setor”, afirmou o ministro.

O ministro ressaltou o empenho do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o apoio do Congresso Nacional para aprovar a Lei do Combustível do Futuro, que estabelece diretrizes para o incremento dos biocombustíveis na matriz energética nacional. “A produção de alimentos e de energias sustentáveis são atividades complementares”, disse.

Durante o evento, Fávaro lembrou também do impacto positivo dos biocombustíveis: “O Brasil está mostrando para o mundo que possui fontes renováveis de energia, ao mesmo tempo que incrementa a produção de alimentos, reduz custos, controla a inflação dos combustíveis e dá um exemplo de sustentabilidade”.

O presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, reforçou a importância da industrialização do milho para o setor agropecuário. “A industrialização do milho, que gera não apenas etanol, mas também DDG e óleo, fortalece a pecuária e impulsiona as exportações de carnes bovina, suína e de aves do Brasil”, afirmou.

Em sua fala, Nastari enfatizou ainda o avanço da produção de etanol de milho no Brasil, que atingiu 8,2 bilhões de litros na safra 2024/25. Projeções apresentadas pelo presidente da UNEM, Guilherme Nolasco, apontam que este volume tem potencial para, no mínimo, dobrar até 2030. Nolasco salientou a expansão da produção do etanol de milho nos últimos anos: “Há uma década, o setor produziu 80 milhões de litros em Mato Grosso. Nesta safra, fechamos com 8 bilhões de litros”.

Nolasco registrou que a indústria de etanol de milho não parou de crescer desde que chegou ao Brasil, no começo da década passada. “Ano a ano, o número de usinas instaladas aumenta e, consequentemente, a produção do biocombustível à base do cereal também. Nós nunca vivemos uma grande tempestade, mas o momento bom que vivemos pode trazer algum transtorno. O setor nunca deve baixar a guarda”, disse.

Também presente à solenidade de abertura do evento, o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, lembrou da força do estado na produção de etanol de milho – com 5,5 bilhões de litros, é o segundo colocado no ranking nacional, atrás apenas de São Paulo, considerando o etanol de cana e de milho. Também participaram da cerimônia Pedro Robério, presidente do Sindaçúcar-AL e coordenador de agro da CNI; Renato Cunha, presidente da NovaBio; e Amaury Pekelman, presidente da Biosul.

Mundo tem 50 países com mandatos para adição de etanol na gasolina

O secretário adjunto de Comércio e Relações Internacionais do Ministério de Agricultura e Pecuária (Mapa), Marcel Moreira, disse que a pasta mapeou 56 países que têm ou planejam ter em breve mandatos de mistura de etanol na gasolina. “A Índia vem avançando, o Japão está nesta agenda, entre outros destaques”, disse.

De acordo com Moreira, o Mapa vem atuando de maneira próxima aos adidos agrícolas com o objetivo de apoiá-los na busca por novos mercados para os biocombustíveis, em particular o etanol: “O fato é que o Brasil está na vanguarda da produção agropecuária sustentável, de alimentos à energia. O desafio é viabilizarmos métricas que reconheçam nosso diferencial junto à comunidade internacional”.

Também participaram do painel o capitão de Mar e Guerra da Marinha Brasileira, Fernando Alberto Gomes da Costa, e o superintendente de Governança e Meio Ambiente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Marcelo Rezende Bernardes. Eles discorreram sobre as oportunidades que se abrem para os biocombustíveis nos mercados de combustível sustentável marítimo e de aviação – este último mais conhecido como SAF. Além disso, o chefe do Secretariado da CEM Biofuture Campaign, Gerard J. Ostheimer, apresentou as ações da entidade para expansão global dos biocombustíveis.

O desafio do reconhecimento internacional

A cadeia produtiva brasileira do etanol de milho tem o desafio de viabilizar o reconhecimento internacional da sustentabilidade do biocombustível nacional. O ponto central é que métricas domésticas que mostram o quão o etanol é sustentável ainda não encontram respaldo em regulamentações internacionais. O diagnóstico foi apresentado pela pesquisadora Luciane Chiodi Bachion, sócia da think tank Agroicone. “O volume de emissões varia conforme a metodologia utilizada e isso é um fator complicador”, disse.

Segundo o coordenador de Projetos do Benri, Thierry Couto, as notas de eficiência energética-ambiental das usinas de etanol de milho vêm avançando no âmbito do RenovaBio. De acordo com o diretor de Sustentabilidade da Inpasa Brasil, Christopher Davies Junior, os biocombustíveis andam cada vez mais lado a lado com a eficiência energética, indo além da entrega ambiental. Já a gerente de Desenvolvimento de Negócios e Alianças de Carbono da Bayer, Juliana Albertengo, abordou os mais recentes avanços da empresa em boas práticas dedicadas à agricultura regenerativa.

O cenário de oferta e demanda para os biocombustíveis

Especialistas do mercado financeiro do agro avaliaram o cenário de oferta e demanda para o etanol de milho e os biocombustíveis em geral. O painel contou com a participação do gerente de Crédito de Agronegócios do Itaú BBA, Guilherme Novaes Theodoro; o chefe do Departamento do Complexo Agroalimentar e Biocombustíveis do BNDES, Mauro Mattoso; e o líder de Pesquisa de Ações do BTG Pactual, Thiago Callegari L. Duarte. A moderação ficou a cargo da sócia da DATAGRO Financial, Carolina Troster.

De acordo com os especialistas, o avanço do aumento da mistura do etanol na gasolina em um número significativo de países e as novas rotas para o uso de biocombustíveis são bons fatores relacionados à demanda. Segundo Callegari, o SAF e seu correspondente marítimo têm potencial para fomentar a expansão global dos biocombustíveis podendo, por exemplo, contribuir para tornar o etanol uma commodity.

No âmbito dessa agenda, Matoso revelou que o BNDES recebeu recentemente mais de 60 solicitações de financiamento para projetos de SAF e de combustíveis sustentáveis para navegação, com investimentos iniciais previstos de R$ 134 bilhões. O executivo ressaltou que o banco está buscando parceiros no mercado para viabilizar essas operações de crédito. De seu lado, Theodoro pontuou que o segmento de etanol de milho tem capacidade de viabilizar novos empreendimentos por meio de uma alavancagem mais equilibrada.

Brasil tem arcabouço legislativo robusto

“O Brasil possui um arcabouço legislativo robusto para liderar a transição energética global”, afirma Plinio Nastari, presidente da DATAGRO. Um dos pilares dessa estrutura é o Mover, programa que estabelece um novo marco regulatório para a indústria automobilística e redefine a forma como o País calcula a pegada de carbono dos veículos. Enquanto a maioria dos países mede as emissões “do tanque à roda” – considerando apenas o uso do combustível –, o Brasil adota a metodologia “do berço ao túmulo”, que leva em conta todas as etapas, da fabricação ao descarte do veículo.

Outro destaque é o Combustível do Futuro, que traça metas para a ampliação do uso de etanol e biodiesel, especialmente em suas misturas com gasolina e diesel. As diretrizes do programa têm servido de referência para países como Estados Unidos e Índia.

Há ainda o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten), que permite às empresas usar precatórios como garantia para financiar projetos voltados à transição energética.

Completa esse conjunto de políticas o RenovaBio, criado para estabelecer metas nacionais anuais de descarbonização no setor de combustíveis. O programa também oferece certificações voluntárias para empresas que comprovem redução de emissões e ganhos de eficiência.

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