13.03.19
Por Mauricio Bauer e Francisco Beduschi, representantes da NWF no GTPS
A pecuária, bovinocultura de corte mais propriamente dita, está passando por muitas mudanças no Brasil e elas vêm acontecendo de forma cada vez mais acelerada recentemente. Sendo assim, as mudanças no sistema produtivo são inevitáveis e é essencial que os produtores que participam dele estejam preparados para se adaptar. Partindo do conceito que temos três pilares na sustentabilidade – econômico, social e ambiental -, neste texto nos propomos a discutir algumas mudanças do ponto de vista ambiental, como elas se relacionam com o econômico e quais oportunidades surgem no curto e no longo prazo.
No Brasil os Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) assinados entre o Ministério Público Federal e os frigoríficos atuantes na Amazônia são já bem conhecidos. Agora temos também as auditorias. Pelo segundo ano consecutivo o MPF auditou os relatórios dos frigoríficos do Pará e alguns tiveram um resultado excelente. Outros, nem tanto. Mas o fato é que com a auditoria vem a necessidade de melhoria nos sistemas de monitoramento. Simultaneamente, o prazo para adesão ao Cadastro Ambiebtal Rural (CAR) se encerrou e o prazo para adesão ao Plano de Regularização Ambiental (PRA) termina no final deste ano. Será a última chance para aqueles produtores que têm algum passivo protocolarem um projeto de regularização com alguns benefícios e com prazo longo para execução dos planos. Sendo assim, temos uma porta que está se fechando, mas muitas janelas estão se abrindo.
Os bancos, principalmente aqueles que participam ativamente de fóruns de discussão como o GTPS, estão cada vez mais proativos no seu papel de financiar a regularização ambiental e querem fazer isso unindo os pilares ambiental e econômico. Faz todo sentido, afinal para poder pagar pela recuperação do passivo ambiental é preciso que o produtor aumente a sua renda. O lado positivo é que com bons projetos a renda seguirá sempre num patamar mais elevado, à medida em que o passivo é eliminado. Há ainda fundos de investimento de impacto, aqueles que trazem recursos financeiros mais baratos para a promoção de mudanças no status quo, que começam a buscar novos projetos no Brasil. A perspectiva de melhoria na economia do país proporcionou isso. Há ainda oportunidades como o IMAC, o Instituto Mato-grossense da Carne, uma iniciativa público-privada que visa promover a carne produzida no Mato Grosso e que pode colocar um holofote sobre bons exemplos.
No cenário internacional, há mudanças que são bastante significativas e que também têm implicações diretas sobre a produção nacional. Na China a Declaração de Carne Sustentável de outubro de 2017 reuniu, pela primeira vez, a China Meat Association e 64 empresas chinesas declararam esforços conjuntos para promover a produção, o comércio e o consumo sustentáveis de carne. Esse conjunto de compromissos são um sinal para o mundo e visam ajudar a garantir que a pecuária seja um contribuinte positivo para o planeta, mantendo-a saudável e capaz de atender às necessidades das futuras gerações. Na União Europeia as pressões internas aumentam e surgem novidades que afetam mesmo operações em outros países. Na França já está valendo uma lei que permite ao Governo processar e multar empresas que tenham sede/grandes operações no país e que estejam ligadas ao desmatamento ilegal em outros países. Isso fatalmente fará com que as empresas nesta situação comecem a ir além dos compromissos assumidos e coloquem mais velocidade e esforço na implementação de políticas para desvincular suas compras do desmatamento ilegal.
Dado esse cenário, no curto prazo é preciso que os atores da cadeia – produtores, frigoríficos, varejistas e sociedades civil – se organizem para acordarem regras claras e comuns para todos no Brasil, independentemente do porte da empresa. Ter regras comuns para todos torna essa uma questão pré-competitiva, deixando de ser aquela situação em que um tem a regra A e outro a regra B, ou ainda um tem uma regra e outro não tem. Esse tipo de iniciativa faz com que a atuação na cadeia passe a ser igual para todos. Isso facilita o planejamento dos produtores e das empresas que compram dos frigoríficos, devendo acontecer com a participação de todos, desde o produtor de bezerros até o varejista. Como respostas de longo prazo, devemos começar a discutir hoje o que estaremos fazendo daqui a cinco anos. Se acreditamos que podemos ter acordos internacionais neste sentido, temos que começar a discutir isso agora. O mesmo vale para o uso de tecnologia, como o compartilhamento de informações via tecnologia de blockchain (a mesma utilizada para a comercialização de criptomoedas). Devemos começar a avaliar as possibilidades hoje. De qualquer forma, sejam soluções de curto ou de longo prazos, a participação é fundamental, as discussões devem começar agora e os fóruns como o GTPS e o GRSB são fundamentais para avançarmos nisso.
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TAGS: GTPS, Pecuária Sustentável