Por Ronaldo Luiz
O World Trade Center São Paulo sediou, em 17 de setembro, a 5ª edição do Fórum Pecuária Brasil, organizado pela DATAGRO. O encontro reuniu mais de 600 participantes entre produtores, representantes da indústria frigorífica, fornecedores de insumos e agentes financeiros, e se consolidou como o principal evento da cadeia pecuária no País. Neste ano, ganhou ainda mais relevância ao se tornar o evento oficial de conteúdo da Beef Week, semana inspirada na tradicional Sugar Week de Nova York.
A abertura destacou os avanços recentes da pecuária brasileira, que vive um ciclo de transformação marcado por profissionalização, inovação tecnológica e visão empresarial. Pesquisa, genética, nutrição, sanidade e manejo de pastagens têm impulsionado a produção, ao lado da adoção crescente de ferramentas digitais que encurtam o ciclo de abate, aumentam a rentabilidade e elevam a qualidade da carne de forma sustentável. “A pecuária brasileira tem mostrado capacidade de inovação e eficiência como nenhuma outra”, afirmou o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari.
Ele ressaltou ainda a integração da bovinocultura com a agricultura e a produção de biocombustíveis, citando como exemplo o uso do DDG, resíduo do milho destinado à fabricação de etanol, na alimentação do rebanho. “Estamos falando de uma jornada de agregação de valor à produção, que combina eficiência e sustentabilidade”, disse Nastari.
Dirigentes das principais entidades representativas da pecuária brasileira também participaram da solenidade de abertura e deram o tom do debate. O presidente da Associação Brasileira de Angus e Ultrablack, José Paulo Cairoli, lembrou que a diversidade genética é um dos maiores diferenciais do Brasil: “A oferta de raças europeias e zebuínas nos garante flexibilidade, qualidade e competitividade”.
Já o presidente da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), Maurício Velloso, destacou a pressão da demanda global. “O consumo de carne cresce em todo o mundo, mas a oferta de bezerros recuou nos últimos anos. Isso se configura em um fator construtivo de preços para o pecuarista, em especial para quem atua no elo da cria.” Na mesma linha, o diretor de Relações Internacionais da ABCZ, Bento Mineiro, enfatizou a crescente modernização do setor. “A tecnologia está presente em todas as etapas da produção, e o produtor brasileiro tem se mostrado ágil em adotar ferramentas que aumentam eficiência e sustentabilidade.”
No encerramento, o secretário executivo da Agricultura de São Paulo, Alberto Amorim, destacou a expansão da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) como modelo de sustentabilidade. “A bovinocultura não pode ser vista como vilã. As pastagens têm enorme potencial de sequestro de carbono, e isso precisa ser mais bem valorizado”, afirmou.
As exportações também estiveram no centro das discussões. O presidente da Abiec, Roberto Perosa, afirmou que, mesmo com o chamado “tarifaço Trump”, o setor deve registrar alta de 12% em volume e 16% em receita neste ano. “O mercado americano é, de fato, rentável e impacta nos resultados das exportadoras, mas o Brasil tem capilaridade e vem redirecionando embarques para outros destinos”, disse Perosa.
Executivos de frigoríficos lembraram ainda que a carne brasileira chega hoje a mais de 150 países, mas o consumo interno responde por 70% da produção nacional. Pedro Bordon, CEO do frigorífico Estrela, citou oportunidades no Sudeste Asiático. “Países como Indonésia, Malásia, Singapura e Filipinas têm enorme potencial para a carne brasileira.” Já a executiva comercial do grupo Ramax, Mariana Inocente, destacou Oriente Médio e África. “São regiões que demandam tanto itens de volume, como miúdos e cortes básicos, quanto carnes premium.” Para o diretor de Exportação da Marfrig, Alisson Navarro, certificações específicas, como a Halal, também abrem espaço para melhor remuneração.
Outro ponto de destaque foi o crescimento do mercado futuro. “Até agosto deste ano, já foram negociados duas vezes mais contratos futuros de boi gordo, cerca de 178 mil, em relação ao mesmo período de 2024”, afirmou Marielle Brugnari Solzki, executiva da B3. “São papéis em ascensão que atraem perfis variados de investidores e aumentam a liquidez.” O especialista André Crivelli, da Terra Investimentos, complementou: “A pecuária cresce, mas junto vem a volatilidade. Quem não fizer hedge terá problemas”.
As projeções da DATAGRO indicam um recuo de 9,3% no abate de bovinos em 2026, para 37,1 milhões de cabeças, reflexo da retenção de fêmeas. Para o analista Guilherme Jank, trata-se de um movimento típico da virada de ciclo. “Quando há retenção de matrizes, sinaliza-se que a oferta futura estará mais restrita.” Segundo ele, a produção de carne deve cair 6,8% no período, enquanto o consumo doméstico tende a diminuir 9,4%.
Encerrando a semana, o Palácio Tangará, em São Paulo, recebeu a primeira edição do Beef Dinner, inspirado no Sugar Dinner de Nova York. O evento reuniu cerca de 500 convidados e homenageou José Batista Sobrinho, fundador da JBS, e o pecuarista Antônio Campanelli. Para João Otávio Figueiredo, head de Pecuária da DATAGRO, o jantar simboliza a força do setor: “O reconhecimento a lideranças que ajudaram a moldar a pecuária mostra como o Brasil constrói sua trajetória com base em trabalho, inovação e visão de longo prazo”.





