Por Ronaldo Luiz
Nova York recebeu no dia 15 de maio mais uma edição do CITI ISO DATAGRO Sugar & Ethanol Conference, evento técnico oficial do NY Sugar Dinner, que há 18 anos é referência no mercado global de açúcar e etanol. A conferência deste ano reuniu mais de 500 pessoas, entre as quais estavam lideranças políticas brasileiras e executivos do setor sucroenergético, para discutir o protagonismo dos biocombustíveis na mobilidade sustentável global, segmento no qual o Brasil se posiciona como líder incontestável.
Entre os presentes estavam representantes dos três organizadores do evento: André Cury, head do Citi Brasil; José Orive, diretor executivo da Organização Internacional do Açúcar (ISO, em inglês); e Plinio Nastari, presidente da DATAGRO.
Nastari abriu os trabalhos ressaltando as mais recentes políticas públicas aprovadas no Brasil favoráveis à transição energética para uma economia de baixo carbono, com destaque para as legislações do Combustível do Futuro e os programas Mover e Paten.
Principal autoridade presente na cerimônia de abertura, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, assinalou que o setor sucroenergético é pilar da economia nacional e que o Brasil tem avançado em soluções reais para viabilizar a transição energética para uma economia de baixo carbono. “Nosso país se posiciona de maneira singular e com responsabilidade nessa temática, apresentando condições ímpares para liderar o esforço globalmente em uma jornada em que o etanol tem papel determinante”, disse.
O deputado Pedro Lupion, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), salientou que os biocombustíveis são peça-chave da mobilidade sustentável, o que abre um grande leque de oportunidades para o Brasil, no que foi endossado pelo deputado Arnaldo Jardim, vice-presidente do colegiado. Jardim citou outras fontes renováveis com enorme potencial, como o biometano/biogás, além das possibilidades que despontam com o uso destas e de outras energias limpas na aviação e no transporte marítimo.
Por sua vez, a senadora Tereza Cristina chamou a atenção para a necessidade de regulamentação da lei do mercado de carbono, o que, segundo ela, permitirá a monetização de ativos ambientais, favorecendo as iniciativas de desenvolvimento sustentável. Em sua exposição, Tereza criticou ainda a elevada taxa de juros no Brasil.

A cerimônia de abertura contou ainda com as presenças da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra; do secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, que representou o governador Eduardo Riedel; do vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões de Almeida; da deputada federal Marussa Boldrin e do deputado federal Zé Vitor; e dos dirigentes Mário Campos Filho (presidente da Bioenergia Brasil), Evandro Gussi (presidente da Unica), Pedro Robério de Melo Nogueira (que representou a Federação das Indústrias do Estado de Alagoas) e Renato Cunha (presidente da Novabio). Ao final da solenidade, o presidente da OIA, José Orive, foi homenageado por sua trajetória à frente da entidade. Confira os destaques:
Agenda tarifária de Trump traz nova era
O economista-chefe do Citi nos Estados Unidos, Andrew Hollenhorst, disse que a agenda tarifária do presidente norte-americano, Donald Trump, mergulhou o comércio mundial em uma nova era. “Começaremos a observar trocas entre países que nunca vimos antes e a implantação de novas tarifas, inclusive relacionadas a questões técnicas”, disse.
De acordo com Hollenhorst, a nova realidade pode levar a China a comprar mais produtos agrícolas do Brasil.
Oportunidades para o etanol
Especialistas destacaram as oportunidades que a necessidade de mandatos obrigatórios de descarbonização nos segmentos aéreo e marítimo trazem para os biocombustíveis. Segundo o almirante de Esquadra José Augusto da Cunha de Menezes, representante permanente do Brasil junto à Organização Marítima Internacional, o potencial para uso dos biocombustíveis no transporte naval mercante é gigantesco diante das metas globais de descarbonização. “Hoje, do total utilizado na frota mundial, apenas 0,2% são biocombustíveis”, disse.
Na avaliação do CEO da Net Zero, Ed Mason, a demanda global por combustível sustentável de aviação está dada e o Brasil tem papel crucial nessa agenda, sobretudo a partir do uso do etanol para fabricação de SAF.
Na sequência, o diretor científico do RCGI, Julio Meneghini, discorreu sobre os investimentos que estão sendo feitos no projeto-piloto na Universidade de São Paulo em hidrogênio verde a partir do etanol, que poderá resultar em combustíveis sustentáveis para aviação e marítimo.
Soluções para transição energética
O potencial do Brasil para a produção de energia limpa e renovável, em particular no setor sucroenergético, deverá atrair investimentos internacionais, afirmaram especialistas do mercado financeiro. Participaram do painel Jean-Luc Bernardi, líder de soluções para América Latina do Citi; Jean Rogers, consultora da Pegasus Capital Advisors; e Luiz Daniel de Campos, diretor do IFC. A moderação foi de Guilherme Nastari, diretor da DATAGRO.
Produtividade dos canaviais do Centro-Sul
A projeção da DATAGRO para a moagem de cana-de-açúcar no total da safra 2025/26 está em 607,59 milhões de toneladas, volume levemente abaixo da estimativa anterior (612 milhões de toneladas), bem como do montante processado na temporada passada (621,88 milhões de toneladas).
“No fim, processaremos praticamente o mesmo volume de cana em 2024/25 e em 2025/26, tendo em vista que esse ano temos cerca de 8 milhões de toneladas de cana bisada e, no ano passado, tivemos 23 milhões de toneladas”, disse Nastari.
A DATAGRO prevê a produção de açúcar na safra 2025/26 em 42,04 milhões de toneladas, alta de 5,9% ante o ciclo anterior. A produção de etanol, por outro lado, deverá cair 0,2%, para 34,53 bilhões de litros, sendo 12,76 bilhões de litros de anidro (+3,2%) e 21,77 bilhões de litros do hidratado (-2,2%). O mix açucareiro deverá ficar em 51,5%.
Diante desse cenário, a produtividade agrícola da cana no Centro-Sul do Brasil deve se recuperar a partir de agosto, garantindo uma boa produção.





