Edição 39 - 19.11.23
Marco Ripoli*
Cada vez mais empresas se mostram preocupadas com o impacto ambiental de suas soluções e produtos, seja no momento da obtenção das matérias-primas, no processo, na venda, seja no uso propriamente dito dos produtos. O movimento ESG que tanto ouvimos falar busca ajudar os interessados a entender como uma organização está gerenciando riscos e oportunidades relacionados a critérios ambientais, sociais e de governança. O ESG tem a visão holística de que a sustentabilidade vai além das questões ambientais. Para isso, trago algumas provocações.
A primeira é: a mecanização e a sustentabilidade podem ser conciliadas? A resposta é sim. As estratégias de mecanização sustentável devem fornecer uma estrutura para a tomada de decisões sobre como alocar recursos, enfrentar os desafios atuais e aproveitar as oportunidades que surgem. Deve ser um processo estruturado, mas flexível, participativo, que leve à definição de um plano coerente de ações e programas realizáveis.
O objetivo de uma estratégia de mecanização sustentável é criar um quadro “político” propício, bem como um ambiente institucional e de mercado no qual os agricultores e outros utilizadores finais tenham uma vasta escolha de equipamentos adequados às suas necessidades no âmbito de um sistema sustentável de fornecimento e apoio.
Os resultados da formulação da estratégia incluirão uma série de recomendações políticas e institucionais apoiadas, quando necessário, por programas e projetos concebidos para sua implementação. A implementação de uma estratégia de mecanização envolve diversos stakeholders e recomenda-se fortemente que seja dada ênfase à adoção de uma abordagem de formulação participativa, envolvendo todas as partes interessadas em todas as etapas do processo.
Os principais grupos são os agricultores que utilizam tecnologias de mecanização, os prestadores de equipamentos e serviços do setor privado na mecanização, além do setor público.
Por exemplo: os novos motores movidos a biodiesel e sistemas de Tier III, IV e V em motores agrícolas, oriundos da Europa, já comprovadamente permitem uma redução na emissão de gases de efeito estufa. Não apenas isso. Podemos destacar também como inovações já existentes em peças agrícolas itens como rolamentos blindados, lubrificação permanente, materiais recicláveis na confecção de bancos e acabamentos e navalhas de cortador de base em colhedoras de cana-de-açúcar.
O segundo ponto também merece ser discutido a fundo: como os sistemas de redução de emissões e tecnologias de economia de combustível podem desempenhar um papel importante? A relação entre recurso e valor é um dos pontos-chave do debate sobre o tema. Nessa perspectiva, acredita-se que os princípios da economia circular já fazem parte do DNA do setor industrial. Adicionar valor aos recursos naturais e entregá-los à sociedade é um dos principais propósitos da indústria.
Apesar de a indústria já ter incorporado algumas práticas de economia circular em seus processos, temos ainda um longo caminho pela frente para conseguir manter, de forma efetiva, o fluxo circular dos recursos a longo prazo e fora das instalações das empresas.
Para pavimentar o caminho de transição para a economia circular, serão fundamentais políticas públicas que estimulem a gestão estratégica dos recursos naturais, promovam a inovação e a competitividade do setor privado, incentivem a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico e que fomentem a conscientização da sociedade.
Os materiais utilizados e os processos industriais já são eco-friendly? A resposta para a terceira provocação é sim. A relação entre recurso e valor é um dos pontos-chave do debate sobre o tema. Nessa perspectiva, acredita-se que os princípios da economia circular já fazem parte do DNA do setor industrial. Adicionar valor aos recursos naturais e entregá-los à sociedade é um dos principais propósitos da indústria. Temos ainda um longo caminho pela frente para conseguir manter, de forma efetiva, o fluxo circular dos recursos, a longo prazo e fora das instalações das empresas.
Para pavimentar o caminho de transição para a economia circular, serão fundamentais políticas públicas que estimulem a gestão estratégica dos recursos naturais, promovam a inovação e a competitividade do setor privado, incentivem a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico e fomentem a conscientização da sociedade.
O outro questionamento diz respeito a motores e transmissões. Eles estão se tornando mais eficientes e limpos? O mundo está preocupado com sua segurança alimentar. Nesse sentido, produtividade e eficiência são importantes, mas não a qualquer custo. As operações agrícolas têm de ser rentáveis, mas precisam se tornar mais sustentáveis. Temos uma população mundial crescente e muitos ainda lutam contra a pobreza e a fome. As mudanças climáticas estão acontecendo, sendo a agricultura considerada responsável por um quinto das emissões mundiais de gases de efeito estufa.
Isto posto, a resposta é, mais uma vez, sim. Os motores estão sendo melhorados para diminuir a emissão de gases nocivos, melhorar sua performance e conversão energética. Com isso, vem o aumento do custo que afeta diretamente o valor dos tratores, colhedoras ou pulverizadores. Nesse sentido, acredito que as máquinas agrícolas terão de ser ainda mais inteligentes, precisas e eficientes se quiserem minimizar o efeito no solo, na água e na biodiversidade.
Em breve, a sustentabilidade estará integrada em todos os aspectos da nossa vida. Não será uma reflexão tardia ou algo que façamos do lado. Teremos empresas, produtos e até cidades mais sustentáveis. A razão pela qual a sustentabilidade está em ascensão está ligada a seus benefícios econômicos. É uma tendência global. Com o tempo, ficará evidente que as pessoas estão procurando maneiras de viver um estilo de vida sustentável, bem como as empresas estão sendo pressionadas para produzir itens sustentáveis e, assim, se diferenciar da concorrência. A tendência para a sustentabilidade só vai continuar a crescer e devemos começar a integrá-la na nossa vida cotidiana para nos prepararmos para o futuro.
O agro não para!
* Marco Lorenzzo Cunali Ripoli é engenheiro agrônomo e mestre em Máquinas Agrícolas pela Esalq-USP, doutor em Energia na Agricultura pela Unesp, fundador do “O Agro não Para”, proprietário da Bioenergy Consultoria e investidor em empresas. Acesse www.marcoripoli.com