Super Fazendas Pelo Mundo

Empreendimentos gigantescos ao redor do planeta surpreendem tanto pela área quanto pelo volume de p


Edição 24 - 03.05.21

Empreendimentos gigantescos ao redor do planeta surpreendem tanto pela área quanto pelo volume de produção e reforçam potencial do agronegócio como investimento.

Registro fotográfico dos empreendimentos na cidade de Mudanjiang vista de cima.
Foto – Cidade de Mudanjiang

O mundo dos negócios sempre pulsa mais diante da notícia de um empreendimento gigantesco, seja no segmento que for, seja onde for. Os que geram retorno financeiro compatível com sua magnitude chamam ainda mais atenção, pois, como dizem, há sempre o risco de que “quanto maior a altura, maior a queda”. No agronegócio, esse tipo de investimento é visto como algo ainda mais impressionante, devido a tantas variáveis que fogem ao controle dos produtores.

A FRASE "SANTANDER, NA CIDADE OU NO CAMPO, A GENTE APOIA O EMPREENDEDOR" SOBRE UM FUNDO VERMELHO
SANTANDER, NA CIDADE OU NO CAMPO, A GENTE APOIA O EMPREENDEDOR

Exatamente por isso, torna-se ainda mais relevante a busca por redução de custos e riscos e pelo ganho de escala, o que garante mais musculatura na hora de negociar, seja com clientes, seja com fornecedores. Ou até mesmo para ter uma voz mais potente junto a autoridades públicas na busca por melhores condições para o setor. É o que estão fazendo grandes grupos agrícolas brasileiros, se consolidando e se tornado ainda maiores.

As megaoperações agropecuárias mundo afora vão ainda em outras direções, às vezes de forma literal, em busca de regiões com melhores condições para o desenvolvimento da atividade, como acontece na Austrália, ou mesmo motivadas pela necessidade de superar entraves políticos, comerciais ou até sanitários, como alguns exemplos da China. Grandes mudanças podem vir em menores proporções, mas com significativo impacto para atender novos conceitos e novas demandas da sociedade global. Confira aqui alguns dos projetos que estão redefinindo as definições de grandeza no agro.

PRODUÇÃO DE LEITE: UM NEGÓCIO DA CHINA

Neste caso, é um negócio também da Rússia, pois envolve a empresa chinesa Zhongding Dairy Farm e a russa Severny Bur. Com investimentos de mais de US$ 160 milhões, aproximadamente, as duas companhias criaram uma megafazenda de 9,1 milhões de hectares, na cidade de Mudanjiang (região norte da China), dedicada à produção de leite, com um rebanho de 100 mil animais e um volume de 800 milhões de litros por ano. Além da atividade em si, que já é atrativa, outra motivação para essa parceria foi um entrave diplomático entre a Rússia e a União Europeia, que gerou um boicote comercial e interrompeu o fornecimento anual de 300 mil toneladas de queijo do bloco europeu para os russos.

AUSTRÁLIA É DESTAQUE EM PECUÁRIA DE CORTE

Registro fotográfico dos empreendimentos Anna Creek Station vista de cima.
Foto – Industrias Anna Creek Station

Anna Creek Station é considerada a maior propriedade do mundo dedicada à criação e engorda de gado de corte. São quase 2,5 milhões de hectares para um rebanho de aproximadamente 17 milhões de cabeças. A fazenda, que desde dezembro de 2016 pertence à Williams Cattle Company, está localizada mais ao sul da Austrália. Quando se olha uma imagem de satélite daquela região, a impressão que se tem é de que engordar gado por ali pode ser bem desafiador, pois a área se assemelha a um deserto. Originalmente, ali pela metade do século 19, a estrutura ficava em Strangways Springs, a cerca de 73 quilômetros de onde está hoje, e sua atividade era a criação de ovelhas.

SUÍNOS CRIADOS EM EDIFÍCIOS

Em 2019, a China perdeu praticamente metade de seu rebanho de suínos por causa da peste suína africana. Desde então, o país vem buscando formas de reduzir o impacto da doença para manter o abastecimento de proteína animal, a exemplo do aumento de importações do alimento. Outra iniciativa, inclusive estimulada pela valorização no segmento de carnes, foi o investimento em novos criatórios de suínos. A empresa Muyuan Foods, com sede na cidade de Nanyang, foi além, iniciou a estruturação de um complexo de 21 prédios, uma espécie de condomínio da suinocultura, que vai abrigar 84 mil fêmeas e suas crias e produzir 2,1 milhões de animais por ano. É o maior empreendimento do setor no mundo.

AGRICULTURA URBANA NO CENTRO DE PARIS

Registro fotografico dos empreendimentos Nature Urbaine visto de cima.
Foto – Nature Urbaine

Foi inaugurada no ano passado a Nature Urbaine, maior fazenda urbana da Europa. O projeto está na cobertura do centro de exposições Paris Expo Porte de Versailles, na capital francesa. São 14 mil metros quadrados – ou 1,4 hectare – com mais de mil frutas e vegetais de cerca de 20 espécies diferentes. O espaço, implementado e gerenciado pela empresa Agripolis, servirá para a realização de oficinas, passeios educacionais sobre agricultura urbana, eventos corporativos, cursos, entre outras possibilidades. Todo o cultivo, a cargo de 20 jardineiros, é feito por hidroponia ou aeroponia, ou seja, sem o uso de terra. Em alguns casos é usado substrato de fibra de coco. Também não há aplicação de defensivos nem utilização de fertilizantes. Para se ter ideia de alguns produtos, há o cultivo de tomate, berinjela e pepino em calhas; morangos, vegetais folhosos e ervas – cebolinha, salsa, manjericão, coentro, sálvia – em colunas verticais de PVC e bambu.

FAZENDA VERTICAL COMO PRESTAÇÃO DE SERVIÇO

Fundada no ano passado, a agtech suíça Yasay criou uma fazenda vertical que é considerada a maior do mundo. A sede da empresa fica em Zurique, mas a infraestrutura agrícola está a cerca de 215 quilômetros, na cidade de La Sarraz, em uma área de 10 hectares onde antes existia uma pedreira. A estrutura tem potencial para produzir anualmente mais de 3,5 toneladas de produtos frescos. Grande diferencial do projeto é a eficiência ambiental, com capacidade de capturar 614 toneladas de CO2 por ano, desempenho que pode ir além. O sistema de coleta de água de chuva no telhado abastece a irrigação, bombas de calor geotérmicas garantem o arrefecimento interno com tetos ativados e os biorresíduos são reutilizados para gerar energia elétrica. Essas e outras medidas resultam em uma compensação direta anual de mais de 3,1 mil toneladas de CO2. Outro fator que destaca a Yasay é a prestação de serviço para montar novos projetos de fazenda vertical, com atendimento desde o planejamento, passando pela operação e chegando até o desenvolvimento de mercado.

AGRICULTURA INDOOR NO DESERTO

Registro fotográfico dos empreendimentos GreenFactory Emirates.
Foto – GreenFactory Emirates

O Deserto GreenFactory Emirates é o nome de um ambicioso projeto de agricultura indoor que está sendo implantado no deserto de Abu Dhabi e envolve investimentos de cerca de € 150 milhões. Dos 17,5 hectares do terreno, 16 serão área de cultivo, com produção de diversos tipos de hortaliças, como 56 variedades de alface, folhas verdes, ervas e couve. O objetivo dessa operação agrícola, baseada em tecnologia holandesa e cultivo tanto vertical quanto plano, é produzir 10 mil toneladas de vegetais frescos por ano sem nenhuma aplicação de defensivos. Todo o processo será monitorado permanentemente, e as informações geradas a partir desse acompanhamento serão utilizadas para o planejamento de projetos futuros, inclusive em outras partes do globo.

GIGANTES DE GRÃOS E FIBRAS DO BRASIL

SLC Agrícola – A empresa deu um grande passo para reforçar sua posição como uma das maiores corporações mundiais em produção de grãos e fibra. Com matriz em Porto Alegre (RS), a SRL contava com 17 fazendas, distribuídas em seis estados (Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Piauí), ocupando quase 450 mil hectares. Ao concluir a aquisição das operações agrícolas da Terra Santa Agro, em Mato Grosso, passa a contar com mais 133 mil hectares. No total, serão mais de 580 mil hectares.

A capacidade agroindustrial da companhia, com 20 unidades de recebimento de grãos, é de quase 7,5 mil toneladas por hora, com potencial de armazenamento de 764 mil toneladas. Já no setor de fibras, a empresa dispõe de 11 algodoeiros para processar e beneficiar a colheita e gerar pluma, caroço, fibrilha e briquete.

A capacidade total é de mais de 8,4 mil fardos por dia, com espaço de armazenamento superior a 185,6 mil fardos de pluma e 72,3 mil toneladas de caroço.

Amaggi – A empesa acaba de anunciar a aquisição do Grupo O Telhar Agro do Brasil, o que significa incorporar à sua operação cerca de 62 mil hectares de 14 fazendas localizadas em cinco municípios de Mato Grosso (Alto Paraguai, Nova Ubiratã, Novo Santo Antônio, Primavera do Leste e Santo Antônio do Leste). Essa área é cultivada com soja, milho e algodão e pode acrescentar 34% na capacidade produtiva da Amaggi, já uma das maiores corporações do setor no Brasil e no mundo. Somando primeira e segunda safras, a companhia contava com 259 mil hectares de áreas produtivas, agora vai se aproximar de 350 mil hectares.

Esse novo investimento tem uma função estratégica na expansão dos negócios da Amaggi, pois acrescenta a produção de grãos em áreas em que a atuação era apenas na comercialização, dando mais vigor a suas operações em Mato Grosso, o estado brasileiro que mais produz grãos. Outro fator positivo é que a negociação envolve ativos de armazenagem, logísticos e industriais, a exemplo da planta esmagadora de grãos e uma nova fábrica de biodiesel, que tem previsão de entrar em operação no ano que vem.

CORREÇÃO DO NEW YORK TIMES

Quando o jornal norte-americano The New York Times publicou um artigo considerando uma fazenda de pouco mais de 3,2 mil hectares como uma grande propriedade, um leitor do Cincinnati Enquirer, outro jornal dos Estados Unidos, fez questão de escrever ao NYT para contestar a informação. Isso aconteceu em agosto de 1866. O texto do leitor inconformado dizia que a propriedade em questão, que ficava no condado de Bureau, no estado de Illinois, não chegava nem perto daquela que ele considerava ser a maior do mundo.

Tratava-se de uma fazenda de mais de 28,3 mil hectares, localizada no condado de Champaign, também em Illinois – antes instalada em Columbus, Ohio –, e que supostamente pertencia a M. L. Sullevant, segundo o texto. “Eu arriscaria dizer que lá não se acha 5 acres [cerca de 2 hectares] de terra inservível nos 70.000 do senhor S. Sua produtividade é inatingível. Quase a totalidade da operação é conduzida com máquinas que economizam o trabalho. Assim, estima-se que um homem realiza o trabalho de quatro ou cinco, como é a realidade nas propriedades pequenas”, escreveu o tal leitor. Qual não seria sua reação se pudesse viajar no tempo e ver o que se tornou a produção agrícola atualmente, com a agricultura 4.0?

 

TAGS: Agronegócio, agropecuária, Empreendimentos, Global, negócios, New York Times, urbana