#oagronuncapara – A piscicultura deve se realinhar

Mauro Tadashi Nakata, diretor Industrial e Comercial da Piscicultura Cristalina – Top Farmer N


Edição 20 - 26.05.20

Mauro Tadashi Nakata, diretor Industrial e Comercial da Piscicultura Cristalina – Top Farmer Nova Geração/Piscicultura

Diante do cenário de urgência mundial em saúde no qual nos encontramos, se desdobram incertezas nos campos pessoal e profissional, e em relação ao futuro econômico da piscicultura e do Brasil como um todo. Nesse momento, é imperativo que nós, empresários da piscicultura, avaliemos criteriosamente a segurança dos nossos trabalhadores, os riscos operacionais e financeiros do setor e as perspectivas do negócio a fim de tomarmos ações assertivas que garantam a perpetuação da nossa indústria.

Entre os desafios enfrentados por minha empresa, o mais importante tem sido garantir a segurança de nossos colaboradores seguindo todas as recomendações dos especialistas em saúde pública, para que somente após essas precauções, a piscicultura e o frigorífico continuem a garantir alimento para os consumidores. A tarefa seguinte foi avaliar em nossa cadeia de suprimentos se haveria riscos de desabastecimento ou ruptura de fornecimento e onde estariam.

Após essa análise para trás na cadeia, buscamos entender a visão e as perspectivas dos clientes – restaurantes e supermercados – em relação ao momento que vivemos. No food service, a maioria paralisou temporariamente suas atividades; no varejo, há muitas dúvidas nas lojas sobre como será o comportamento do consumidor e a consequente falta ou sobra de mercadorias perecíveis, como peixes, nos supermercados. Essa realidade nos obrigou a reforçar nosso capital de giro, estreitar parcerias com clientes pequenos prorrogando títulos e concedendo mais prazos. Também houve impacto na logística para o varejo que foi refinada para atender aumentos ou cortes repentinos de pedidos.

As perspectivas para a piscicultura brasileira antes da crise eram as mais otimistas possíveis, havia crescimento anual constante da produção, aumento de exportações, entre outros fatores positivos. O pós-crise nos traz muitas incertezas, contudo é possível o setor retomar essa marcha, talvez partindo de um patamar abaixo do qual paramos, porém trazendo na bagagem como aprendizado a necessidade de:

  1. Formalização do setor: os impactos das medidas de isolamento social foram mais graves para piscicultores e indústrias que atendem mercados informais ou menos complexos. Produtores integrados ou com contratos de fornecimento a frigoríficos conseguem escoar sua produção, ainda que sofram consequências da crise. E o acesso a programas de socorro econômico será facilitado aos produtores regularizados.
  2. Diversificação de mercados: empresas que atendem poucos clientes, por vezes no mesmo mercado, como a Ceagesp, devem reavaliar sua estratégia de comercialização e seus riscos inerentes.
  • Comunicação proativa: este é um momento importante para a piscicultura brasileira mostrar seus bons exemplos à sociedade e tudo o que faz para garantir um alimento seguro. Isso nos ajudará a tomar as rédeas do nosso futuro e da maneira que seremos vistos pelos consumidores.
  1. Plano estratégico para o setor de aquicultura e pesca: das quatro principais proteínas animais consumidas no Brasil, o pescado é a única em que o País não é autossuficiente. O setor não deve buscar políticas de substituição de importações, mas sim demandar dos governos federal e estaduais regramentos se não iguais, ao menos semelhantes, entre os estados, tratamento tributário isonômico às demais proteínas, com o propósito de garantir a oferta de pescados, mesmo em momentos de crise.

Fazendo uma releitura do provérbio chinês “na vida há três coisas que não voltam: a flecha lançada, a palavra proferida e a oportunidade perdida”, ao qual Evaristo Marzabal Neves, o mestre “Vavá” (Esalq, F66), sempre se refere, os tempos que vivemos não são para lançar flechas em inimigos políticos, concorrentes comerciais, nem desafetos; ao contrário, urge que a cadeia da piscicultura profira sua palavra, contando sua história e cumprindo sua função social de alimentar os brasileiros e, finalmente, não perca a oportunidade de unir o setor com a finalidade de construir as bases para nosso crescimento de longo prazo, que certamente virá.

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