Edição 20 - 26.05.20
Por Ibiapaba Netto, diretor-geral da CitrusBR
A pandemia de Covid-19 é a prova cabal de que o mundo, realmente, se transformou numa grande aldeia global. Nunca uma crise fora antes transmitida em tempo real e com um massacre de informações tão grande. Tenho dúvidas, porém, sobre a forma como as pessoas interpretam essas informações e que uso fazem delas. Nesse sentido, é preciso ter cautela antes de qualquer previsão otimista ou pessimista. É preciso ter clareza de que tudo, absolutamente tudo, poderá ser revisto no curto prazo, simplesmente porque não há padrões ou referências para o que vivemos hoje. Sendo assim, não pretendo me arriscar em elaboradas teorias, mas olhar um pouco para algumas atividades, tendo aquela que represento como referência: o setor exportador de suco de laranja.
Diante da crise imposta pela Covid-19, este invisível inimigo, podemos separar o agronegócio em dois grandes grupos. O primeiro está nos produtores de alimentos, que bem ou mal continuam suas operações. Com cuidados adicionais e algumas restrições, a vida continua para esses setores. Nesta turma destaco suco de laranja, carnes, soja, milho, entre outros.
No outro polo estão os setores não alimentares como etanol, borracha, madeira, entre outros.
Dessa forma, inicialmente, os setores do primeiro grupo parecem sofrer menos justamente porque alimentação é a última coisa a ser cortada – e para que isso aconteça seria necessária uma crise que a nossa geração certamente não viveu. Mas a verdade é que ninguém sabe como será a retomada da economia do mundo, o nível de emprego, quantas empresas resistirão e quantas vão sucumbir à paralisia. Não se sabe como serão a renda e, claro, as dívidas no período pós-Covid-19. Na minha opinião, esse será o grande desafio. Não se sabe como as pessoas vão reagir a locais com aglomeração ao longo dos próximos meses e se haverá “efeito chicote” no hábito das pessoas. Ainda assim, as pessoas continuarão consumindo e se alimentando. Só não se sabe a força dessa demanda.
No setor de suco de laranja, experimentamos uma explosão no consumo de suco de laranja a partir da segunda quinzena de março, em níveis que há muito não se via. A procura por vitamina C e a disposição de se estocar produtos em casa foram os motores dessa “onda laranja”. Passadas algumas semanas (e ao escrever este artigo em meados de abril), percebe-se que a curva de consumo aponta para a estabilização, o que está longe de ser má notícia. Nesse cenário, mais do nunca, ter o empate nas mãos é o mesmo que ganhar de goleada.
Para os próximos meses, é praticamente impossível “cravar” o que acontecerá. É possível que, em meio a tantas opiniões, alguém acerte o que está por vir. Se a retomada será rápida e vigorosa ou o mundo passará por um novo “1929”, teremos de viver para ver. Até lá, sigo a cartilha da cautela em evitar previsões definitivas que, aliás, mudam como a direção dos ventos. Particularmente, tenho a tendência de evitar os extremos. Entre a retomada dos sonhos e um longo período recessivo, “espero” que a verdade esteja no meio. Alguns setores sofrerão mais, outros, menos. A única certeza é que o mundo mudou e agora resta aguardar o “novo normal”.
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