#oagronuncapara – O consumo de frutas nunca foi tão importante

Por Luiz Roberto Barcelos, Presidente da Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores Exportad


Edição 20 - 26.05.20

Por Luiz Roberto Barcelos, Presidente da Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados)

Estamos vivendo algo sem precedentes, um problema que atinge a grande maioria dos países, ceifa a vida de muita gente e trará consequências ainda desconhecidas e imensuráveis na economia mundial. Mas com certeza de cunho fortemente recessivo, que poderá estabelecer uma nova ordem econômica de diferentes proporções.

Ao contrário de alguns setores que são abrupta e negativamente atingidos, como turismo, aviação comercial, bares, restaurantes e hotéis, a produção agrícola e de proteínas de origem animal não pode e não deve parar. No caso específico da fruticultura, setor que representamos, os muitos desafios que se apresentam agora demandam ações rápidas e eficazes para não haver desabastecimento e garantir que os produtores recebam um preço justo e evitem a falência.

Mais do que nunca o setor necessitará do reconhecimento dos consumidores para que não deixem de consumir frutas, ao máximo que puderem, como fortalecimento de seu sistema imunológico. Da compreensão dos dirigentes políticos para elaborarem legislações que desonerem impostos e encargos, impedindo que o preço das frutas pese tanto no bolso dos consumidores. E apoio das instituições financeiras para que reduzam os custos do capital emprestado e alonguem débitos para que os produtores possam permanecer fazendo o que sabem fazer: não deixar faltar as tão saborosas e nutritivas frutas que tanto agradam o paladar de seus consumidores.

Como afirmam recomendações médicas e nutricionais, as frutas são uma excelente fonte de vitaminas e sais minerais, que auxiliam o organismo humano a fortalecer seu sistema imunológico, prevenindo doenças infectocontagiosas, exatamente como a que aterroriza o mundo agora. Num primeiro momento, esse cenário poderia ser uma grande oportunidade para o nosso setor.

No entanto, assim como as verduras e os legumes, as frutas são altamente perecíveis, com uma vida útil de pós-colheita muito mais curta do que outros produtos do agronegócio. Por isso, é comum produtores venderem suas frutas a preços abaixo do custo de produção, o que os deixa em situação financeira complicada, pois a cadeia de frio é precária e custa muito, e a operação demanda muita mão de obra. Além disso, há grande desperdício durante o transporte e a distribuição.

Por conta disso, na grande maioria das frutas, o preço final para o consumidor acaba sendo mais alto, o que impede o aumento ou até o próprio consumo. Segundo dados do IBGE, o brasileiro consome pouco mais de 56 quilos de frutas por ano, ou seja, a metade do que preconiza a Organização Mundial da Saúde. E, segundo pesquisa de hábitos e consumo de frutas feita há alguns anos pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o fato de as frutas terem um preço mais alto na comparação com outros alimentos, esse baixo consumo no Brasil se concentra nas classes sociais A e B e um pouco na C.

Portanto, o grande desafio será dosarmos essa oferta de frutas em face da nova realidade que se insurgirá após essa paralisação geral. A redução da atividade econômica encolherá o poder de compra de boa parte dos consumidores. Nesse panorama, além de diminuir a produção, os fruticultores terão de reduzir o número de colaboradores, o fluxo de caixa e a capacidade de pagamentos a seus parceiros financeiros. O essencial equilíbrio entre a oferta e a nova demanda passará pela eliminação de pomares pouco eficientes e por investimentos em tecnologia para obter mais produtividade e mais qualidade com menos custos. Atitudes que já vinham sendo tomadas, mas que precisam, impreterivelmente, ser implementadas.

Mais do que nunca, a fruticultura e todo o agronegócio, que envolve também a logística e a distribuição, necessitarão do reconhecimento da sociedade civil como um todo, da compreensão por parte dos dirigentes políticos e do apoio das instituições financeiras, para que tenham condições de continuar levando comida à mesa de toda a humanidade.

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