Storytelling: do causo ao business case

Contar um causo requer talento e certa habilidade. Geralmente contados com ênfase e cadência, com


31.05.19

Ricardo Campo é coordenador de inovação da Raízen e gestor do Pulse hub. É técnico em artes gráficas pelo Senai Fundação Zerrener, graduado em Propaganda e Marketing pela Universidade Mackenzie, especialista em Marketing de Varejo pelo SENAC e possui MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas – FGV. Admira a coragem dos empreendedores rurais e sua trajetória no agro também inclui a atuação nos times de marketing da DSM/Tortuga e do Rabobank Brasil

Contar um causo requer talento e certa habilidade. Geralmente contados com ênfase e cadência, com intervalos para um “pito no paiero” ou um “gole da marvada”, os contos da roça sempre foram um bom motivo para reunir a família ao pé da fogueira ou para garantir o passatempo dos tropeiros na parada de descanso junto com a boiada.

Os brasileiros são reconhecidos pela sua criatividade e não seria diferente na arte de contar estórias. Da narrativa popular, surgiram mitos e crenças do nosso folclore como o Boitatá, Saci Pererê, Curupira, Matinta Pereira, Negrinho do Pastoreio e Iara Mãe D’Água.

Monteiro Lobato foi um dos escritores que soube capturar a essência destes personagens fantásticos, traduzindo em letras o que o povo conta, dando vida a personagens como a boneca Emília e a turma do Sítio do Picapau Amarelo. Mas é em obras como “Urupês” e “Cidades Mortas” que Lobato mostra como os hábitos e costumes da comunidade rural por si só já rendem boas estórias.

Destaque para o causo “O resto de Onça”, que narra a luta entre um caboclo e uma onça pintada, em narração para lá de matuta e com um desfecho de tirar o fôlego. Outro notório contador de estórias e que ainda compartilha os seus causos em vida é o Rolando Boldrin, O “Sr. Brasil”, que além de manter vivo o cancioneiro nacional, é um livro aberto de contos e anedotas caipiras.

Ao ouvirmos um bom causo, mantemos olhos e ouvidos atentos ao que fala o nosso interlocutor. Nossa percepção se volta ao conteúdo e enredo que, se bem contado, tem grandes chances de atingir os confins das nossas mentes e corações. Porque estória boa é a que “arripia”.

Em tempo de comunicação digital, somos expostos a uma enxurrada de informações instantâneas, numa velocidade em que muitas vezes há pouco tempo para reflexão e tomada de decisão. Mas, no meio agrícola, parece que o público ainda valoriza uma boa prosa, o que favorece as boas relações e a formação de opinião.

QUEM CONTA UM CONTO, AUMENTA UM PONTO

No livroO herói de mil faces”, Joseph Campbell destaca que a arte de contar e ouvir estórias é essencial, pois esta intrinsecamente ligada ao desenvolvimento de nossa psique e aos fenômenos que ocorrem em nossa mente. Para este estudioso da mitologia e criador do conceito da “Jornada do Herói”, usado por roteiristas de cinema e redatores publicitários, narrar e escutar estórias nos ajudam a nos desenvolver como seres humanos.

 Deixando de lado as estórias de pescador, empresas perceberam o poder de um bom causo e por isso passaram a utilizar em suas campanhas o Storytelling, que é a forma de se contar uma história com o uso de técnicas de narrativa.

Uma campanha bem-feita pode chamar a nossa atenção. Porém, uma história bem contada segue adiante no consciente coletivo por pessoas que vão contá-la outra vezes também. Em tempos de redes sociais, isso pode representar um maior engajamento via compartilhamento de conteúdo e crescimento orgânico da base de seguidores de uma marca.

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QUANDO O CAUSO VIRA CASE

No storytelling a narrativa é usada para criar conexões de grande valor. É o branding levado ao nível emocional, em formato de história, gerando vínculos afetivos com o público-alvo. É algo aparentemente simples do ponto de vista da produção publicitária, mas que requer originalidade.

Histórias reais, contadas por pessoas reais, impactam pela espontaneidade e pelo poder de transmitir valores que reforçam o posicionamento de uma marca como confiança, tradição, superação e qualidade. E isso se mostra bem eficaz mesmo para produtos que se diferenciam por atributos técnicos, como fertilizantes e maquinários, onde geralmente o processo de decisão de compras é definido por aspectos racionais.

Melhor do que recontar aqui a fórmula para o storytelling rural, o que acha de ouvir de quem já está praticando este conceito para convencer e encantar? Ficou curioso? Senta que lá vem história…

– “Espelhos” – Ford Ranger: campanha de 2017 lançada em homenagem ao dia dos pais, com uma história real de superação no campo, compartilhada entre pai e filha.

– “As escolhas que fazemos” – Nespresso – Uma história real narrada por George Clooney, sobre o empoderamento de produtores de café da Colômbia, como Humberto, e de como isso impactou o futuro e os sonhos de sua família.

– “Mais de 100 mil famílias cuidando da sua” – Cooperativa Aurora: filme institucional da cooperativa, narrado por Gustavo “Guga” Kuerten, em história de emocionar.

– “Nossas Raízes” – Mosaic Fertilizantes: websérie que mostra a relação de produtores rurais com os aspectos da fertilidade do solo e a nutrição de suas safras.

– “Top Farmers” – Plant Project: websérie da Plant Project, patrocinada pela Corteva Agriscience, que mostra o melhor do agronegócio brasileiro pelas histórias de produtores que fazem a diferença em suas culturas.

 

 

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