A Evolução Permanente na Agropecuária

No artigo passado falamos sobre a Revolução dentro e fora do Campo, focando nas quatro grandes rev


06.07.18

Marco Lorenzzo Cunali Ripoli, Ph.D. é Engenheiro Agrônomo e Mestre em Máquinas Agrícolas pela ESALQ-USP e Doutor em Energia na Agricultura pela UNESP, executivo, disruptor, empreendedor, inovador, professor e mentor. Proprietário da Bioenergy Consultoria e da Energia da Terra, empresa de alimentos saudáveis.

No artigo passado falamos sobre a Revolução dentro e fora do Campo, focando nas quatro grandes revoluções industriais e agora gostaria de comentar o que ocorre na Agricultura, nas últimas décadas.  Passamos por três grandes fases que ajudaram significativamente no aumento da produtividade agrícola brasileira.

Nos anos 70, o conceito de Plantio Direto foi introduzido como forma de aumentar a produtividade das lavouras, a melhoria da estrutura do solo, ajudou na redução do volume de químicos e adubos aplicados e fez com que os fabricantes desenvolvessem novas especificações de máquinas e equipamentos que pudessem atuar sob condições mais intensas de palhada no campo, muito diferentes daquelas que estávamos acostumados.

Na década de 90 aparece a cultura de Segunda Safra (erroneamente chamada de safrinha, exclusiva ao nosso país) que proporcionou aos agricultores uma segunda renda sob a mesma terra (no mesmo ano), aliada à redução significativa do ciclo de produção da soja para 90 dias.  Máquinas e equipamentos trabalhando cada vez mais horas no mesmo ano-safra, o que requereu um maior e melhor acompanhamento do programa de manutenções, atuação da rede de concessionários, com pessoas capacitadas e disponibilidade de peças para a hora que o produtor necessita.

Atualmente vivemos a terceira onda, chamada de ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta), que já é considerada uma das mais bem-sucedidas estratégias de produção agropecuária, pois combina diferentes sistemas produtivos dentro de uma mesma área de produção gerando benefícios mútuos (soja, milho, gado e floresta, por exemplo).  Equipamentos agrícolas novamente sofreram melhorias para se adequar ao novo sistema, novas tecnologias de gestão e pesquisas vêm sendo desenvolvidas pela Embrapa e apoiadas por importantes empresas do agro como a Cocamar, Dow Agrosciences, John Deere, Parker e Syngenta.

Junto a esta terceira onda, a chamada Agricultura 4.0 vem conquistando espaço e admiradores, elevando o conceito de Revolução Digital ao campo. Agricultura de Precisão, Pecuária de Precisão, Internet das Coisas, Inteligência Artificial, Blockchain são algumas das tecnologias que tomam cada vez mais corpo.

Leia também: Revolução Dentro e Fora do Campo

Para a Agricultura 4.0 funcionar adequadamente é necessário tratarmos de alguns temas específicos como a conectividade rural, que ainda é bastante deficitária em nosso país, pois faltam incentivos e infraestrutura para chegarmos a patamares mínimos desejáveis, a extensão rural, que deve migrar de assistência para eficiência, e a rotatividade de mão-de-obra, que pode ser solucionada com uma política de distribuição de lucros, uma melhor capacitação dos funcionários e salários mais adequados.  Vivemos um processo de transformação devido ao surgimento de tantas tecnologias e o jovem profissional é parte fundamental para o sucesso destas novas aplicações. Precisamos garantir que eles(as) permaneçam no campo e não simplesmente busquem as cidades devidos aos atrativos por ela oferecidos.

A agricultura totalmente conectada já é realidade nos Estados Unidos e muitos outros países, onde basta comprar uma máquina, ligar e praticamente já está conectada à internet, comunicando-se com diversos computadores e realizando tarefas diferentes.  No Brasil, infelizmente, mal temos internet nas cidades…  A John Deere recentemente lançou uma rede de comunicação em 4G a 250 MHz, frequência exclusiva para o uso no agronegócio.  Sem isso, qualquer tecnologia, por melhor que seja, não funcionará.

O Brasil tem o oitavo maior PIB do mundo e pode avançar duas posições até 2050, sendo o único país capaz de dobrar sua produção sem diminuir a sua área de preservação (hoje 66%) e triplicar sua economia, atualmente em US$2 trilhões.  A China será o grande player mundial e levará vantagem nos processos industriais devido ao custo de sua mão-de-obra, mas o Brasil indubitavelmente é o maior e melhor player quando se fala em produção de alimentos.

Como diz um grande amigo “Se a gente não produzir os alimentos necessários ao mundo, podem ter certeza de que os chineses virão comprar nossas terras e produzir eles mesmos”.

O Agro não para!

TAGS: Agricultura 4.0, ILPF, Revolução das Máquinas