Avaliação da safra de vinhos fica para novembro

A Avaliação Nacional de Vinhos, que ocorre todos os anos na Serra Gaúcha, é provavelmente a maio


17.06.20

Irineu Guarnier Filho é jornalista especializado em agronegócio, cobrindo este setor há três décadas. Metade deste período foi repórter especial, apresentador e colunista dos veículos do Grupo RBS, no Rio Grande do Sul. É Sommelier Internacional pela Fisar italiana, recebeu o Troféu Vitis, da Associação Brasileira de Enologia (ABE), atua como jurado em concursos internacionais de vinhos e edita o blog Cave Guarnier. Ocupa o cargo de Chefe de Gabinete na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, prestando consultoria sobre agronegócio.

A Avaliação Nacional de Vinhos, que ocorre todos os anos na Serra Gaúcha, é provavelmente a maior degustação coletiva do mundo. Mais de 800 pessoas participam do evento, organizado pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), que avalia os vinhos-base para espumantes, brancos e tintos da última safra. Das mais de 300 amostras, selecionadas por uma comissão de alto gabarito da enologia brasileira, apenas 16 chegam à final e são analisadas por um grupo de 16 comentaristas (enólogos, sommeliers, jornalistas e celebridades) nacionais e estrangeiros.

O maior evento do vinho brasileiro acontece sempre no último sábado de setembro. Neste ano, já em sua 28a edição, foi transferido para o dia 7 de novembro, em razão da pandemia do Coronavírus.  Os vinhos terão, assim, mais algumas semanas para evoluírem.

A safra 2020 é considerada a melhor de todos os tempos no Rio Grande do Sul. Apesar da crise sanitária, não poderia deixar de ser avaliada – mesmo que a participação do público tenha de ser reduzida. O enólogo Daniel Salvador, presidente da ABE, está otimista: “Saberemos estudar o melhor formato e adotar todas as medidas de segurança necessárias para garantir o sucesso do evento e, principalmente, a prevenção da saúde de todos os participantes”.

O panorama visto do palco

Participei de seis Avaliações. Na primeira, em 2011, sentei à mesa principal, juntamente com 15 outros degustadores-comentaristas – um “blend” bem equilibrado de experts e leigos. O panorama visto do palco me impressionou: quase 900 pessoas em silêncio, concentradas, degustando no mesmo timmig dos comentaristas amostras iguais, graças a uma logística impecável de serviço, executada em uma coreografia precisa por quase cem voluntários.

Em 2013, a ABE me distinguiu com o Troféu Vitis, concedido aos Amigos do Vinho, pelo meu trabalho na mídia brasileira. A surpresa foi enorme. Foi meu momento mais emocionante desde que me dedico à crônica do vinho. Um ano depois, fui chamado às pressas pela ABE para substituir um dos comentaristas que ficara retido em Paris por causa de uma greve de pilotos da Air France. Foi muito bom estar outra vez entre os felizardos 16 comentaristas da mesa principal (algo que nem eu sonho eu poderia almejar).

Missão difícil

É sempre uma missão difícil avaliar vinhos recém-elaborados, que, em alguns casos, ainda estão nos tanques das vinícolas. Sobretudo porque esses vinhos não estão prontos. Podem melhorar ou não com o tempo. Os brancos joviais já estão quase aptos para o consumo. Mas os tintos – que ainda repousarão por mais um ou dois anos em barricas e garrafas – geralmente estão bastante imaturos. Já os vinhos-base, que vão virar espumantes após uma segunda fermentação, ainda são mais difíceis de analisar – por isso, a sua avaliação é reservada aos enólogos do júri.

A verdade é que, a cada Avaliação Nacional de Vinhos, temos surpresas. O clima, principalmente, pode nos dar uma ótima safra de vinhos ou uma vindima medíocre. É assim na Serra Gaúcha ou em Bordeaux. A tecnologia moderna ajuda a compensar, em parte, as trapaças da meteorologia. Mas é nesta imprevisibilidade que reside a beleza do vinho.

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