Vinhos veganos

Hábitos alimentares variam muito de uma região e de uma época para outra. Com o vinho, uma bebida


21.05.20

Hábitos alimentares variam muito de uma região e de uma época para outra. Com o vinho, uma bebida quase universal, não é diferente. Cada cultura e cada época possuem as suas preferências. Há quem os prefira brancos, tintos, rosés, secos, suaves, licorosos, fortificados, com gás, com madeira, sem madeira, muito alcoólicos, pouco alcoólicos, jovens, velhos… Ou seja, existem vinhos para todos os gostos e gostos para todos os vinhos.

O champanhe, quando surgiu na região francesa da Champagne, no século XVII, era basicamente um vinho espumante doce. Ingleses do século XVIII eram grandes consumidores de Vinho do Porto, o fortificado português que depois se tornaria mundialmente apreciado. Em um passado não muito distante, já se consumiu muito vinho rosé suave (O vinho português Mateus Rosé chegou a ser o mais vendido no mundo). No Brasil, até o final da década de 1980 se bebia mais vinho branco do que tinto. No início dos anos 1990, com a descoberta do Paradoxo Francês, que comprovou os benefícios do consumo de tintos para o sistema cardiovascular, a preferência se inverteu.

Hoje, outros gostos estão na moda. Há quem só consuma alimentos – aí incluído o vinho – orgânicos ou biodinâmicos. Mas existe outra tribo de consumidores que vem crescendo muito: os veganos – que não fazem uso de nenhum produto de origem animal. Pesquisa realizada pelo Ibope em 2018 revelou que 14% dos brasileiros já eram vegetarianos e veganos. São nada menos do que 30 milhões de pessoas. Para esses, logicamente, o vinho também precisa ser…vegano.

Mas, se o vinho é feito exclusivamente de uva, então todo vinho é vegano, não? Aí que está: não. Vários ingredientes utilizados no processo de vinificação têm origem animal. Os mais comuns são a albumina, da clara do ovo, a caseína, proteína do leite, e a gelatina bovina ou suína – usados na clarificação da bebida. Ou seja, por mais imperceptíveis que sejam, esses e outros elementos de origem animal acabam entrando na composição do vinho – o que é inaceitável para os bebedores veganos.

De olho neste mercado promissor, algumas vinícolas estão eliminando de seus vinhos qualquer traço de proteína animal. É o caso da vinícola Miolo, da Serra Gaúcha, que tornou seu portfólio 100% vegano e adotou o selo da The Vegan Society, a mais antiga associação vegana do mundo, reconhecida pela International Vegetarian Organization. O primeiro vinho comercializado com essa distinção é o Miolo Wild Gamay 2020. A Miolo também não usa mais proteínas de origem vegetal derivadas do trigo, centeio, aveia, amendoim, soja e outras oleaginosas, nem de látex. Com isso, seus vinhos também estão livres de componentes alergênicos. A expressão Alergenic Free já está nos contra-rótulos.

De tempos em tempos, o mundo do vinho é agitado por modismos. Há modinhas que vem e que vão. Como, por exemplo, a do “vinho azul”. Ou a dos vinhos envelhecidos em “ovos” de cimento. Mas o consumo crescente de vinhos orgânicos – e agora veganos – parece revelar uma tendência mais consistente, do tipo que veio para ficar.

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