26.03.20
Durante a semana tive a oportunidade de conversar com profissionais e representantes do setor para saber o que estão pensando a respeito da importância e dos desafios do Agronegócio brasileiro durante o cenário atual de pandemia causado pelo COVID-19.
Para a grande maioria, a opinião converge para a afirmação que o Brasil tem totais condições de manter o abastecimento doméstico de alimentos e exportações, porém existe a preocupação do Ministério da Agricultura, entidades e empresas de negociar medidas que contribuam com a movimentação de produtos agropecuários e serviços para ajudar a reduzir possíveis interrupções nas entregas de alimentos e subprodutos.
Estas foram suas colocações:
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“Em todos os tempos de crise a sociedade é abalada de uma forma; ora pela falta de energia, ora pela privação de ir e vir devido a um fato emergencial e por aí vai. Mas existe um processo que não pode parar: o agronegócio. Por pior que seja a crise a humanidade, bem ou mal, não deixa de se alimentar. Essa é a importância que vejo, pois o Agro não para”.
(CARLOS ZUMERLE, Consultor-Proprietário da AgroZeta Consultoria em Segurança no Agro, Indaiatuba/SP)
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“Analisando previsibilidade do consumo e a capacidade produtiva do Brasil, observa-se que o setor de alimentos de primeira necessidade poderá ter um grande arrancada à medida que regiões e países vão se afastando do furacão destruidor do COVID-19; já o setor de energia renovável e alimentos de mesma origem deverão passar por um grande problema da diminuição de consumo frente à quarentena do cidadão do mundo, apesar da atenuante provocada pela logística de distribuição de alimentos, entregas e fast food; a indústria de vestuário, moveleiro e construção civil fatalmente serão afetados pois o consumo de bens de primeira necessidade e sobrevivência será prioritário e fundamental.
O Brasil acabará sendo um dos principais fornecedores de alimentos ao mundo, que gradativamente retornará ao seu equilíbrio, por meio de estragos e reconstruções simultâneos, pois a pandemia do COVID-19 promove colapso na economia e no suporte à saúde; depois se dissolve e desaparece à medida que a população cria resistências e a medicina avança na cura.
Os desafios serão: logística de distribuição, que terá “portões” e barreiras sanitárias a serem rompidos; necessidade de suporte econômico dos governos perante a quebra abrupta da economia, geração de renda e consumo; e, finalmente o tempo de controle, onde uma diminuição da pandemia dentro do primeiro semestre de 2020 pode provocar troca de lugares entre ofertantes e demandantes por alimento e o Brasil terá saldo positivo”.
(CELSO ALBANO, Gestor Executivo da ORPLANA, Ribeirão Preto/SP e Professor Associado do PECEGE, Piracicaba/SP)
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“Entendo que este momento é único porque embora no campo estejamos bem mais seguros que nos grandes aglomerados urbanos, temos dois cenários bem complicadores que são: o trabalhador rural de fato que mora em pequenas cidades ou na zona rural está apavorado com as notícias que estão sendo compartilhadas por todas as mídias, e os escritórios das grande agroindústrias estão nos aglomerados urbanos, forçando que de uma hora para outra todos tenham que aprender a trabalhar de casa.
Nisso tudo existem as oportunidades de entender que toda crise pode trazer um crescimento, e para os trabalhadores que estão apavorados existe a oportunidade de os líderes serem mais próximos e mostrarem como lidar com isso com segurança sem comprometer as atividades. Já para as empresas que tiveram que do dia para noite conviver com o ‘home office’ vem a oportunidade de digitalizar processos, coisas que pelo meio tradicional poderia levar anos até que se quebrasse a barreira das pessoas já estarem acostumadas a maneira corrente.
Quanto aos negócios, óbvio que não será bom para ninguém, mas obviamente como produzimos sobretudo alimentos, a queda será um pouco menor e nos levantaremos antes dos demais”.
(DANIEL DUFT, Especialista em Sensoriamento Remoto aplicado a Agricultura do CTC, Campinas/SP)
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“Nesse mundo globalizado todas as cadeias produtivas estão conectadas e o agronegócio brasileiro faz parte de inúmeras cadeias produtivas e de alimentos globais. Dizer simplesmente que as pessoas precisam se alimentar e por isso nada sofreremos é um brutal engano. Dependemos de alguns países para fornecimento de insumos, peças de máquinas, componentes diversos de equipamentos industriais etc. e de outros somos fornecedores de alimentos em forma de matéria prima para processamento e consumo.
Em ambos os casos seremos de alguma forma afetados pois o problema do coronavírus vai afetar quase todos os países que estão com sua economia já anestesiadas e consequentemente teremos grandes reflexos por aqui. Entretanto agro no geral será menos afetado do que outras cadeias ou outros negócios pequenos ou grandes como os têxteis, calçados, equipamentos industriais, automóveis, serviços em geral, turismo, organização de eventos que estão se reposicionando para o segundo semestre Perderemos um trimestre de consumo mas como sabemos a produção de alimentos não pode parar”.
(DIB NUNES, Consultor-Proprietário do Grupo IDEA, Ribeirão Preto/SP)
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“Com a atual pandemia de COVID-19 e o crescente número de países entrando em quarentenas, é necessário o contínuo abastecimento das regiões rurais e metropolitanas de produtos e serviços essenciais, como medicamentos e alimentos, tornando o Agronegócio primordial para as pessoas que vivem nessas áreas.
Na minha opinião, serão três as principais questões enfrentadas pelo Agronegócio neste momento. Em primeiro lugar, manter os trabalhadores seguros e garantir que eles sejam capazes de trabalhar sem um risco de contaminação, se certificando de que todos os funcionários tenham equipamentos de proteção adequados para minimizar a possível propagação do vírus. Criar um programa de triagem dos trabalhadores, criando um plano de quarentena e isolamento se algum trabalhador pegar o vírus.
Em segundo lugar, certificar-se de que os suprimentos e insumos necessários para manter as fazendas em operação não são interrompidos devido às quarentenas.
Por fim, o sistema logístico deve continuar funcionando, os caminhões devem ser capazes de continuar transportando os produtos do campo para seus clientes, onde estiverem, evitando escassez e preços inflados devido à redução da oferta”.
(ERIC HOLTEL, Consultor Sênior da Bioernergy Consultoria no Agro, São Paulo/SP)
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“O Agro está em seu melhor momento para fazer bases, as fazendas estão ótimas, a terra brasileira é bem preparada mesmo que a duras penas. Foi muito difícil abrir cerrado, abrir as matas, muitas críticas e contradições e o Agro foi vencendo estas barreiras. Os agricultores estão bem… não quero dizer capitalizados, pois requer muito dinheiro para plantar a próxima safra – cada vez maiores. Foi-se formando uma base no Brasil muito forte e agora, com a tecnologia das máquinas, as pesquisas da Embrapa (em sementes, por exemplo) levaram ao fortalecimento da agropecuária.
A verdade é esta: passamos muitos anos de crise no Brasil, mas o Agro foi se tornando algo muito ‘top’. Aqui temos fazendas que em muitos lugares não existem. Isso foi uma base sendo feita de maneira quase silenciosa. A grande revolução está ocorrendo de um ano para cá, junto com a revolução das máquinas e tecnologias, sendo que nos últimos 15-20 anos passamos pela revolução da genética.
Eu vejo com esta crise provocada pelo COVID-19 que a necessidade de comida pelo mundo fica muito mais forte. Há ainda o potencial do Brasil de alimentar o mundo junto com os EUA. E as parcerias Bolsonaro-Trump são importantes. O que temos que nos posicionar fortemente é: não somos uma “feira”. É hora de colocarmos preço em nossos produtos”.
(JUAREZ GAVINHO, CEO da Iguaçu Máquinas – John Deere, Rondonópolis/MT)
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“Embora seja um período de muitas incertezas, enquanto nas cidades tudo está parando o campo está em ritmo acelerado. A maior contribuição que o Agro e o agricultor pode dar para superar essa crise é continuar trabalhando, suando no campo, calejando suas mãos, para garantir que não falte comida nos lares do país. E assim será, pois #oagronaopara”.
(MARCELO PAVANELLO, Consultor de Negócios na Tracan Máquinas – Case IH, Araçatuba/SP)
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“O único setor que teremos algum crescimento será o do Agro, mas fica aqui um senão: estou muito preocupado com a extensão destas quarentenas, que podem provocar uma catástrofe muito maior que o vírus com desemprego em massa e empresas sem fôlego para continuar. Comida as pessoas consomem e o Agro vai produzir, mas deve abalar muito exportações e mesmo o consumo interno. Vamos rezar para esta situação ser corrigida o mais rápido possível”.
(MÁRCIO MELONI, Diretor Comercial da Copercana, Sertãozinho/SP)
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“Como já ouvimos muitas vezes: crise é oportunidade e é dessa maneira que encaro o momento atual para a agricultura brasileira. Temos uma agricultura muito competitiva, dentro da porteira, lucrativa mesmo sem relevantes incentivos fiscais quando comparada aos nossos principais competidores, e uma condição climática que nos permite em muitas situações realizar três safras ao ano no mesmo talhão. Portanto, acredito que com a retomada da normalidade sanitária e da normalização do consumo, assumiremos o papel de protagonistas absolutos como produtores de alimentos desde que aceleremos a introdução de soluções inovadoras que apoiem a agricultura profissional”.
(PAULO QUEIROZ, Gerente de Portfolio e Ativos da FMC, São Paulo/SP)
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“O agronegócio brasileiro será responsável mais uma vez por ajudar a superar esta crise e após o atual cenário do COVID-19 por manter a cadeia de abastecimento de proteína (carnes) e sgrãos (soja, milho e farelos) para todo o mundo! Necessitaremos restabelecer funções básicas da saúde humana, começando pelos alimentos! Otimismo, força e coragem serão as vozes que nós do agribusiness brasileiro deixaremos ao mundo após esta crise.”
(RAFAEL ORTOLAN, CEO da Brazilian Trade Ltda., Curitiba/SP)
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“Eu vejo que o agro é quem mais uma vez mostra pelo seu valor e, mais do que isso, pelo trabalho árduo do produtor rural que está combatendo essa crise da pandemia do coronavírus de maneira exemplar. Converso diariamente com produtores de todo o país e a maioria está trabalhando para produzir alimentos e não deixando que a crise abale a segurança alimentar do Brasil.
Vejo o trabalho dos caminhoneiros, por sua vez, bastante expostos, o das agroindústrias, tomando as medidas necessárias para continuar a produção sem afetar o abastecimento. Vejo ações bonitas do setor, como a da Embrapa, que irá disponibilizar seus laboratórios para realização de testes do coronavírus, com capacidade de 43 mil análises por dia. O campo científico do agro em ação conjunta ao Ministério da Saúde. Tenho certeza que sairemos mais fortes desta! Não será fácil, mas acredito que o agro é forte o bastante para atravessar mais essa situação adversa”.
(RENATA MARON, Jornalista e Apresentadora do Programa Bem da Terra, Canal Terraviva da Rede Bandeirantes, São Paulo/SP)
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“Com o coronavírus, as economias brasileira e global entrarão em recessão, tendo como pior parte o efeito nas pequenas e médias empresas, com várias indo à falência. O desemprego também crescerá muito, voltaremos a ter países mais ricos aumentando o protecionismo de produtos internos com maior custo de produção. Em 2019, o Agro representou 21% do PIB brasileiro. Com uma provável queda nas exportações totais do Brasil e nos negócios dos demais setores da nossa economia, prevejo um forte crescimento da participação do Agro no PIB de 2020 e 2021. Ele também absorverá importante parcela dos desempregados, inclusive através de pequenas e médias empresas (fazendas e sítios), que devem se manter vivas e competitivas, ao contrário das pequenas e médias empresas dos demais segmentos.
Nosso Agro precisará continuar a se inserir de forma cada vez mais pragmática em todas as diferentes cadeias de produção dos vários países, aproveitando os gaps que surgirão na produção de alimentos pela atual crise do coronavírus. Além disso, precisaremos ser mais ágeis e disruptivos na identificação e ocupação desses gaps, como, por exemplo, o declínio previsto da produção agrícola na União Europeia pela idade dos gestores das fazendas. Em 2016, praticamente 33% deles tinham 65 anos ou mais enquanto só 11% tinham 40 anos ou menos. Outro ponto crucial é rapidamente desatarmos os nós de logística de distribuição e exportação de alimentos, mesmo que tenhamos de usar capital estrangeiro, principalmente o chinês. Finalmente, estamos vivendo e viveremos novos tempos, como esta pandemia sem precedentes. Rapidamente iremos nos defrontar com diferentes e inusitadas demandas do mercado, bem como novos obstáculos a serem superados. A capacidade de empreender e buscar desafios para vencer dos produtores do Agro brasileiro será fundamental para estes novos tempos”.
(RICARDO PINTO, Consultor-Proprietário da RPA Consultoria, Ribeirão Preto/SP)
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“O Agro é fundamental na manutenção da garantia de provimento de alimentos para nossa população e, também, para países mais necessitados”.
(ROBERTO THIELE, CEO da Verde Telecom, São Paulo/SP)
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“Sem dúvidas, será novamente a sustentação da economia nesse período crítico. Tenho certeza de que o Agro será o pilar mais forte do PIB durante essa crise, mantendo empregos, distribuição de renda, alimentação do nosso povo e mostrando novamente que o Agro não para’”.
(RODOLFO MELONI, Diretor da Meloni Agrícola, Sertãozinho/SP)
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“Temos a certeza de que o agronegócio é hoje o maior propulsor de desenvolvimento em nosso país. A fala correta seria – Produto certo na hora certa, pois o agronegócio depende exclusivamente das janelas do tempo para garantir a produção de alimentos. Esta engrenagem não pode parar.
Os maiores desafios enfrentados até o momento, são os recursos de mão-de-obra qualificada, sendo uma das principais barreiras para que o Brasil se torne referência em toda a cadeia produtiva. O agronegócio brasileiro já passou por inúmeras crises, e ao longo destes anos sempre se sobressaindo e se consolidando mais forte, com foco em tecnologia e eficiência, um olhar voltado a uma gestão em resultados.
Imaginem como estaria o Brasil, se o agronegócio não fosse ousado, independente, empreendedor, resiliente, inovador, inconformado e ávido por melhorar sempre, agora imaginem essa força toda com mais apoio, melhores políticas para fortalecer o setor, com investimento em infraestrutura de escoamento dando a esse setor maior competitividade, imaginou? Agora imagine este pilar da nossa economia, deixado de lado ou sem apoio de entes públicos e privados, onde estaríamos, ou onde poderemos estar num futuro próximo, então produto certo na hora certa, depende de ajuda certa na hora certa”.
(ROSINEIDE ALVES CAMPOS, Gerente Geral de Negócios da Ciarama Máquinas – John Deere, Ponta Porã/MS)
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“VOZES DO AGRO” é uma série de artigos que fará parte da minha coluna “A Revolução das Máquinas”, trazendo, de tempos em tempos, assuntos e provocações relevantes aos cenários agrícolas brasileiro e mundial.
O Agro não para!
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TAGS: Coronavírus, COVID-19, Vozes do Agro