O agro, o tech e o fator que nos une

Startups são empresas em fase inicial que desenvolvem produtos ou serviços inovadores, com potenci


18.11.19

*Ricardo Campo é coordenador de inovação da Raízen e gestor do Pulse hub. É técnico em artes gráficas pelo Senai Fundação Zerrenner, graduado em Propaganda e Marketing pela Universidade Mackenzie, especialista em Marketing de Varejo pelo Senac e possui MBA em Marketing pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Admira a coragem dos empreendedores rurais e sua trajetória no agro também inclui a atuação nos times de marketing da DSM/Tortuga e do Rabobank Brasil.

Startups são empresas em fase inicial que desenvolvem produtos ou serviços inovadores, com potencial de rápido crescimento, num modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza. Conhecidas como Agtechs, as startups agrícolas têm transformado o cenário do agronegócio, gerando ganhos de produtividade e eficiência para produtores rurais, com oportunidades de negócios para empreendedores e investidores, abrindo novas fronteiras na economia global.

Como celeiro do mundo, o Brasil já mostra a sua força nesse setor, agregando às nossas commodities também o capital intelectual das novas tecnologias. Na forma de grãos ou bytes, sacas ou algoritmos, vivemos um momento importante como trendsetters, estabelecendo tendências nessa nova revolução agrícola.

Publicado pela SP Ventures, Embrapa e Homo Ludens, com apoio da StartAgro, o estudo Radar Agtech Brasil 2019 identificou cerca de 1.125 agtechs atuando na agropecuária e produção de alimentos. Divididas em “antes, dentro e depois da fazenda”, o censo deixa claro como estas empresas já configuram um novo e promissor segmento com soluções que vão desde insumos biológicos, passando pela produção monitorada em tempo real até chegar às mesas dos consumidores finais na forma de alimentos funcionais ou proteínas alternativas.

Depois de quase duas safras em atividade no Agtech Valley (o Vale do Piracicaba), tenho a oportunidade e o privilégio de interagir diariamente com estudantes, pesquisadores, empreendedores, investidores e produtores rurais. Nesse ambiente conhecido como ecossistema de inovação, é muito gratificante ver como academia, startups e mercado estão ajudando a mudar a dinâmica em que nosso país passa a exportar tecnologia ao invés de apenas adotar aquilo que nos é entregue.

Mas, para que tecnologias emergentes virem produtos de fato e ganhem escala comercial, as boas ideias precisam sair do laboratório e partir para a realidade do campo, progredindo entre barro e poeira, superando as dificuldades estruturais características do meio rural para que ganhem o crédito de produtores ao resolverem suas “dores” e problemas da vida real.

No fim das contas, nessa colheita de novidades devemos lembrar do fator humano que nos une, com 99% tech mas com aquele 1% inquieto, criativo e resiliente.

Pivotar ou perseverar, eis a questão!

 Produzir sem ter a certeza do resultado esperado, tentando mitigar os riscos do clima, das pragas, dos custos dos insumos, do câmbio e preços internacionais, das ofertas e demandas do mercado: ser produtor rural não é nada fácil. Ainda mais quando se tem o peso nas costas de ter que alimentar um planeta faminto, com consumidores cada vez mais engajados e conectados.

A projeção mundial de habitantes para 2050, que antes era de 9 bilhões, já chegou a 10 bilhões. E nesse ponto, a visão das startups orientada para a resolução de problemas em modelos de crescimento rápido e escalável é uma grande aliada para o desenvolvimento de uma agropecuária mais eficiente e sustentável.

À primeira vista, as Agtechs surgem como fonte de inovação incremental, otimizando rotinas operacionais com impactos que auxiliam em redução de custos e melhores tomadas de decisão. Porém, são estas mesmas startups que ajudam numa produção ambientalmente mais precisa, com menos aplicação de insumos, melhor uso de recursos naturais e redução da pegada de carbono.

Seja pela leitura do solo com sensores, pela liberação de defensivos biológicos por drones, previsão climática por aplicativos ou rastreabilidade por blockchain. Junto com o benefício deste pacote “disruptivo” há ainda o risco de ter que testar e aprender rápido com uma maior tolerância ao erro, num modo de pensar não muito comum ao agro, setor que cobra caro qualquer variação de safra, vendendo a presente aquilo que será colhido apenas no futuro e olhe lá!

Parece que aqui encontramos um link que coloca startups e fazendas lado a lado para um modelo de inovação aberta, com atuação em campo para crescer e perseverar. O conhecimento científico precisa ser validado com a experiência prática para ajustes de trajetória e feedbacks valiosos que permitem insights e confrontação com os códigos binários (a linguagem dos computadores) podendo virar fonte de receita na forma de um produto mínimo viável*.

*Do inglês Minimum Viable Product, o MVP é um conjunto de testes primários feitos para validar a viabilidade do negócio, provando a visão inicial da startup e revelando se uma boa ideia corresponde a um produto que atenda às demandas do mercado. Para saber mais, clique aqui.

Leia também: Storytelling – do causo ao business case

 

Brilho nos olhos, poeira nas botinas.

Os investidores de risco conhecidos como VCs, Venture Capitalists, citam o “brilho nos olhos” como uma das características mais marcantes dos empreendedores bem-sucedidos. Também é dos VCs a expressão de que uma ideia não vale nada se não houver capacidade de execução.

Num ciclo de construir, medir e aprender, as startups conseguem atuar de forma enxuta para desenvolvimento rápido de soluções considerando os MVPs, a experiência do usuário e as interfaces a qual ele terá que interagir (UX / UI). Basicamente é aprender fazendo, amassando barro e ouvindo quem vai usar o produto final dentro das porteiras.

Se é AgTech, estamos falando de agrobusiness e o lucro está na mesa de negociação. No entanto, mesmo que se trate de uma empreitada tecnológica, o sucesso será consequência de uma relação de pessoas lidando com pessoas, na base da confiança e cooperação.

Com coragem de se lançar ao incerto em busca de resolução, empatia para se colocar no lugar do outro para a percepção de um problema real e de impacto socioambiental. Usando habilidades de comunicação para sintetizar um arsenal técnico de forma simples para traduzir o seu valor.

Tendo sensibilidade para ouvir e mudar o caminho quando necessário. Carisma para liderar e reter talentos numa empresa em formação. Paciência para driblar a angústia de se provar como negócio sólido e com muita resiliência para superar um eventual fracasso.

São os fatores humanos que fazem a diferença em qualquer negócio e certamente serão essenciais para consolidar as raízes da agricultura 4.0. Se você é um empreendedor com intenção de desbravar o campo com uma nova invenção, saiba que dentro dessa máquina chamada agro também bate um coração!

Clique aqui para conferir todas as #ColunasPlant.

TAGS: Agronomídia, AgTech, Startups, Tecnologia