Melhoria contínua nos sistemas de exclusão

Por Daniela Mariuzzo Em tempos de Tereza Cristina como Ministra da Agricultura, parecem aumentar as


13.11.18

Por Daniela Mariuzzo

Daniela Mariuzzo é engenheira de Alimentos, Diretora Executiva da IDH no Brasil e ex-presidente do GTPS.

Em tempos de Tereza Cristina como Ministra da Agricultura, parecem aumentar as chances de termos grandes e duradouras realizações no setor. Digo isso, pois sendo mulher sei que nossa passagem nunca é em branco. Em tudo o que a gente se envolve, nós conseguimos, por meio da perseverança, tirar o melhor de cada um se formos pacientes e estratégicas o suficiente.

Foi assim quando eu pisei em uma fazenda de pecuária pela primeira vez a trabalho no norte de Goiás. Minha principal motivação era ajudar os pecuaristas na conservação dos recursos naturais de suas propriedades. Eu acreditei e eles também acreditaram. A confiança foi mútua e quando vi estava a trabalhar com pecuaristas pioneiros e inovadores que, no ano de 2000, já pensavam em melhoramento genético, inseminação artificial e (pasmem) no meio ambiente!

Foram eles, sem dúvida, os culpados de tudo: de eu me apaixonar por esse mundo rural desconhecido de grande parte da população urbana; de eu entender como a produção e o boi estão ligados à natureza e como os animais e as plantas estão léguas a frente dos humanos no quesito sabedoria. Aprendi a ficar em silêncio para ouvir o canto dos pássaros. Aprendi o cheiro das plantas e a conhecer as pegadas dos animais. Aprendi que nada sabia sobre conservar o meio ambiente.

Também notei que na grande maioria das vezes o produtor rural quer sempre fazer a coisa certa. Se ele não esta fazendo é porque não está informado. Aí ele se informa, faz cursos, treinamentos. Então, com o conhecimento em mãos, ele vai implementar. Mas aí ele não tem os recursos…Isso é tão desanimador e tão frequente no nosso mundo rural.

Agora imaginem que temos um sistema que seleciona produtores rurais para as cadeias de fornecimento com base em listas de exclusão. Esse sistema é excludente. E é tão excludente quanto insignificante no sentido de gerar mudanças positivas e impactos relevantes para a sociedade.

É fato que hoje, após uma década do sistema de monitoramento por listas estar implementado, somamos (sim, nós conseguimos!) mais de 10.000 excluídos das cadeias produtivas. Criamos um mundo de excluídos do sistema econômico e não demos outras opções a eles, a não ser serem “os excluídos”.

Quanto isso é sustentável? Quantos recursos já foram colocados nesses sistemas de exclusão que poderiam ter causado impactos em grande escala se tivessem sido investidos nas áreas de originação de matérias primas?

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Será que não está na hora de repensarmos nossos modelos ou de pensarmos novos modelos? Não é muito confortável, apesar de caro, criar um mundo de excluídos com o simples apertar de uma tecla enter?

Tornamo-nos PhDs em excluir. Em um mundo onde a inclusão é uma bandeira cada vez mais forte, como podemos fazer a transição de um sistema excludente – que gera um conforto ilusório para as empresas em relação aos riscos reputacionais  –  para um sistema inclusivo, aquele que, tendo um risco conhecido, gerenciável, monitorado e aceitável na originação, possa ser o veículo para investimentos e compromissos de longo prazo das empresas interessadas junto aos produtores e as comunidades em que vivem?

Resgatarmos os produtores excluídos passa por, primeiramente, aceitarmos que, até chegarmos à perfeição (supondo que isso fosse possível), teremos que conviver com o imperfeito. Não vamos sair de zero a 100% de perfeição se não aceitarmos, como sociedade, que temos que nos envolver com o imperfeito e que isso é bom. É isso o que nos torna humanos.

Quando criamos os princípios do GTPS, Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável, refletimos a nossa condição humana no princípio da melhoria contínua. É por aí que conseguiremos resgatar a massa de excluídos que geramos.

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