O Agro é Master, Chef!

Quem gosta de comida e da boa e velha arte de preparar um prato certamente já deparou com alguns do


06.06.18

Ibiapaba Netto, 42 anos, é jornalista e cursa o MBA de economia e gestão em relações governamentais na FGV. Trabalhou em alguns dos mais importantes veículos de comunicação do Brasil, tendo sido repórter no jornal “O Estado de São Paulo”, repórter e editor na revista Dinheiro Rural. Ao longo de sua carreira, se especializou na cobertura do agronegócio brasileiro, assim como na cobertura nas questões ligadas aos desafios para a produção de alimentos no mundo. Desde 2013 ocupa o cargo de diretor-executivo da CitrusBR.

Quem gosta de comida e da boa e velha arte de preparar um prato certamente já deparou com alguns dos diversos programas de culinária existentes no mundo televisivo. Seja na TV a cabo, na Netflix ou em qualquer outra plataforma, fugir desses seriados é tão difícil quanto não ficar com fome ao fim de cada episódio. Há, porém, alguns aspectos que considero realmente interessantes nessa grande celebração que se criou em torno da comida e dos profissionais que a preparam.

Os chefs de cozinha são os novos  alquimistas, magos que na antiguidade perseguiam a máxima de transformar chumbo em ouro. Esses novos alquimistas transformam ingredientes em pequenas obras de arte comestíveis que podem, em muitos casos, superar o valor de uma cesta básica, ou usando uma licença poética, ser vendidos a preço de ouro.

Exageros a parte, a galera “Master Chef” tem feito grande trabalho em valorizar esse bem sagrado que é tudo aquilo que colocamos no prato: a comida, não exatamente do jeito que ela é, mas como sonhamos que ela seja. Essa turma ensina que é preciso respeitar a alimentação.

Mas, apesar de todo esse culto em torno da arte culinária, é cada vez mais notória uma certa negação ao agronegócio entre chefs estrelados. E é justamente o agronegócio que proporciona, literalmente, o ganha pão dessa moçada.

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Recentemente, uma renomada chef postou em sua conta numa rede social o resultado de uma consulta pública na internet sobre a lei dos alimentos mais seguros, que prevê uma série de evoluções no sistema de registro de defensivos (ou agrotóxicos, como preferem). A referida consulta seguia até que equilibrada entre votos contrários e favoráveis ao projeto de lei até que algumas “personalidades” entraram no jogo, pediram para que seus seguidores votassem contra e mágica aconteceu. Mais uma lavada contra o agronegócio.

As maiores autoridades em comida, aqueles que possuem espaço na televisão, audiência nas redes sociais e autoridade moral perante o público não gostam do agronegócio e o agronegócio não faz nada para mudar isso.  Pior: em alguns casos tentamos desqualificar essas pessoas por serem “de fora” e por “não entenderem do negócio”. Fica uma pergunta: alguém tentou explicar?

Seguimos falando de nossa importância para a balança comercial, enquanto o consumidor se preocupa mesmo é com o seu peso na balança e olhe lá…  Nos preocupamos em falar quantos empregos geramos, enquanto o consumidor se preocupa em empregar seu tempo da melhor forma possível com as delícias que a vida urbana pode proporcionar. Com geladeira e barriga cheia, claro, afinal, o responsável por fornecer alimento é o supermercado, certo?

Hoje a maior campanha em curso para falar do agronegócio diz que o agro é pop, agro é tech, agro é tudo. Mas a verdade é que o agro não é nada pop. Não existem influenciadores com massa crítica de seguidores capazes de mobilizar qualquer conceito que seja em benefício do agro nas redes sociais e as boas referências que temos em nosso setor falam apenas para dentro de nossa própria cadeia de valor sem reverberação na sociedade. A população não entende “o agro”, mas entende de comida, de churrasco, de salada, de peito de frango grelhado, de suco de laranja. A população entende o valor da comida, mas não valoriza o agronegócio que produz essa comida.

Espero que um dia possamos falar de comida com a mesma desenvoltura que falamos dos números que produzimos. Quem sabe nesse dia sejamos master em vez de pop. Porque no fundo, o consumidor é o chef.

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