O Brasil que não queremos

O Brasil não é mesmo para principiantes. Um ano após a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil


05.06.18

Com 13 anos de experiência no mercado aeronáutico, o paranaense Tiago Dupim atuou como repórter, editor-executivo e editor-chefe de algumas revistas do setor. Atualmente, comanda a B2B Comunicação. Morou duas décadas em São Paulo e está há dois anos no Rio de Janeiro. Nas horas vagas (que são muito poucas) gosta de ouvir um bom rock’n roll, beber um bom vinho ou cerveja e acompanhar, mesmo que a distância, o Clube Atlético Paranaense, seu time de coração.

O Brasil não é mesmo para principiantes. Um ano após a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) aprovar a polêmica resolução que permite às companhias áreas cobrarem uma taxa extra aos passageiros que quiserem despachar as suas malas, nada mudou no custo final do bilhete. Na verdade, piorou.

Recentemente, o blog “Todos a Bordo” escancarou o que todos já desconfiavam: de acordo com dados da própria Anac, em junho do ano passado o preço médio das tarifas aéreas em voos domésticos no Brasil equivalia a R$ 333,35. Em fevereiro deste ano, o preço médio das passagens subiu para R$ 354,02. Mesmo com a correção das inflações, o resultado é um aumento real de 6%.

É preciso dizer que, na própria resolução que alterou as regras, a Anac estipulou um prazo de cinco anos para uma análise completa dos efeitos da mudança. Meia década para verificar se o passageiro foi beneficiado ou não é, convenhamos, muito tempo. E, em alguns casos, o preço para transportar uma bagagem extra custa mais da metade do valor total da tarifa.

As companhias, por meio da Abear (Associação Brasileira de Empresas Aéreas), defendem-se alegando que os preços das passagens são impactados pela alta do combustível e do dólar. No entanto, nos mesmos meses de junho de 2017 e fevereiro de 2018, por exemplo, a cotação da moeda americana frente ao dólar se manteve na média. Agora, caso tivéssemos uma queda no valor do querosene de aviação, a redução chegaria na tarifa aérea? É de se pensar.

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Nos primeiros anos desde a sua criação em 2005, a Anac construiu uma história cercada de polêmicas. O grande erro no início foi contar com poucos profissionais especializados em aviação no seu corpo técnico. Com isso, decisões equivocadas foram tomadas em diversas áreas da aviação civil, revoltando boa parte do setor no Brasil.

Porém, nos últimos anos, com mais experiência, aprendendo com os erros e ouvindo os anseios da indústria, a agência passou a seguir numa proa sem turbulência.

Mas, ao que parece, em alguns casos ainda peca num ponto extremamente importante: saber entender e analisar os interesses de quem está do outro ponto da corda. Nesse caso específico, os usuários do transporte aéreo regular.

Esse modelo de bagagem paga já funciona há anos com sucesso nos Estados Unidos e na Europa. Lá as chamadas companhias low cost (baixo custo) deixam claro que o objetivo é transportar o usuário do ponto A ao B com segurança e rapidez. Não mais que isso.

Mas tem um detalhe: estamos falando de dois mercados extremamente maduros em que, historicamente, a população voa no mínimo três vezes mais do que o Brasil. Aqui, a aviação regular foi “democratizada” há apenas 15 anos. Muita gente que nunca imaginava um dia voar de avião passou a fazer parte desse mundo novo, pois quem viaja a lazer, com planejamento, encontra preços bem convidativos que, agora, são impactados com a taxa extra de bagagem.

Claro que o Brasil está seguindo apenas uma tendência mundial. Atualmente, somos apenas o nono mercado de transporte aéreo do mundo (já fomos o quarto) e, mudanças como esta, precisam de uma certa adaptação. O que não pode é tirar um “benefício” sem a desoneração chegar no bolso do passageiro.

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TAGS: Anac, Aviação, Bagagem