Pneuzinhos na barriga? A culpa é da matemática…

Mundo afora é crescente o número “especialistas” que tentam encontrar um culpado pelos


23.05.18

Ibiapaba Netto, 42 anos, é jornalista e cursa o MBA de economia e gestão em relações governamentais na FGV. Trabalhou em alguns dos mais importantes veículos de comunicação do Brasil, tendo sido repórter no jornal “O Estado de São Paulo”, repórter e editor na revista Dinheiro Rural. Ao longo de sua carreira, se especializou na cobertura do agronegócio brasileiro, assim como na cobertura nas questões ligadas aos desafios para a produção de alimentos no mundo. Desde 2013 ocupa o cargo de diretor-executivo da CitrusBR.

Mundo afora é crescente o número “especialistas” que tentam encontrar um culpado pelos pneuzinhos acumulados nas barrinhas menos malhadas que habitam este nosso adiposo planeta. A patrulha alimentar não perdoa nada: açúcar, carne, sucos de fruta, pão, leite e seus derivados… A lista de restrições é tão grande que faz com que nos perguntemos como a humanidade chegou até aqui se alimentando “tão mal”, ao passo que a taxa de expectativa de vida só faz aumentar num claro contrassenso entre percepção da realidade e a verdade em si. Mas, verdade seja dita, a epidemia de obesidade é um problema sério e preocupa principalmente governos de países ricos, que procuram os culpados para o crescente aumento de peso das pessoas e isso “alimenta” a caça a bruxas a determinados grupos alimentares. O problema é que a culpa não é dos alimentos e, sim, da matemática…

Cada grama de gordura indevidamente alojado em seu abdome, adiposo leitor, possui  9 calorias. Dessa forma, portanto, é preciso queimar nove calorias para derreter um grama de gordura. Tomemos como exemplo um homem que tenha de perder 10 quilos. Estamos falando de 10.000 gramas de gordura, ou se preferir 90.000 calorias a serem queimadas para que esses 10 quilinhos desapareçam de onde nunca deveriam ter estado.

Ao tomar por base um homem adulto, 1,70 m de altura, 70 kg, uma dieta para apenas manter o peso teria em média 2.000 calorias. Para que ele engorde 10 quilos, portanto, seria necessário, hipoteticamente, uma dieta de 4 mil calorias por 45 dias para ganhar esses quilinhos extras. Ou de 3 mil calorias por 90 dias. Já um homem com os mesmos 1,70 m que desejasse perder esses mesmos dez quilos necessitaria fazer uma dieta de apenas 1 mil calorias durante 90 dias ou uma restrição de 500 calorias/dia somadas a outras 500 calorias “extras” queimadas em atividades físicas. Isso mostra porque, na matemática da alimentação, é muito mais fácil somar quilos do que diminuí-los.

A questão é que nenhum alimento isoladamente tem a capacidade de nos engordar. Um copo de suco de laranja, por exemplo, tem apenas 112 calorias, enquanto 100 gramas de feijão possuem 375. Um copo de leite integral de 200 ml, 114. Um bombom de chocolate, algo em torno de 80 calorias. Cada um dos alimentos citados possui diferentes benefícios e podem ser consumidos de forma moderada. Até mesmo a inofensiva salada pode ser um “problema”: uma colher de sopa de azeite, com 14 gramas, possui 114 calorias e inúmeros benefícios. Dessa forma, uma salada de alface que tenha sido “turbinada” com quatro colheres de sopa de azeite tem, te largada, 456 calorias, três vezes mais do que o pobre do copo de suco de laranja e quase seis vezes mais do que o bombom de chocolate que, indevidamente, leva a fama de ser calórico!

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Recentemente, um grande amigo meu, Joe Ribeiro, 44 anos, baixou de 82 quilos para 68,1 quilos em pouco mais de cinco meses. Foram 14 quilos – ou 126.000 calorias queimadas! Como? O cidadão passou a contar calorias por meio de um desses aplicativos tão comuns hoje em dia. Com orientação médica, estabeleceu uma meta diária de 1.600 calorias e assim seguiu sua toada, sem grandes restrições, uma mordida de cada vez. Outro dia rolou uma pizza em minha casa e o cidadão comeu um pedaço e ficou por isso.

Dessa forma, é possível perceber uma certa hipocrisia na discussão sobre alimentação saudável. Não existem alimentos bons e ruins, atestam os principais estudiosos do assunto. Logo, o problema não está no que se consome, mas na quantidade das porções e, principalmente, no que escolhemos. Por isso, antes de colocar a culpa em algum alimento faça as contas. No fim, você vai concordar que a culpa, é sempre da matemática. Principalmente na matemática da obesidade.

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