CAETANO RIPOLI, AINDA PRESENTE

Nascido em 16 de fevereiro de 1947, Tomaz Caetano Cannavam Ripoli, conhecido pelos mais próximos co


27.03.18

Nascido em 16 de fevereiro de 1947, Tomaz Caetano Cannavam Ripoli, conhecido pelos mais próximos como Kaita, se considerava com muita alegria “caipiracicabano”.  Apesar de sua preocupação com a fala e escrita corretas soltava de vez em quando aquele “erre” característico da cidade, bem puxado.  Era apaixonado pela família, profissão, politica, esporte e fotografia.

Em 1968 começou a divulgar as atividades do Centro Acadêmico Luiz de Queiroz (CALQ) no Jornal de Piracicaba na coluna intitulada CALQ Notícias, quando encontrou seu gosto pelo jornalismo-político.  Neste mesmo ano, foi convidado a noticiar as atividades do Centro Acadêmico no jornal Diário de Piracicaba.

Caetano se formou Engenheiro Agrônomo pela ESALQ-USP em 1970 e desde os primeiros anos de sua graduação se identificou com a fotografia e frequentou por vários anos o laboratório de fotografia localizado no subsolo do Prédio Central.

O esporte entrou em sua vida pelo legado de meu avô, Romeu Ítalo Ripoli, também formado Engenheiro Agrônomo pela ESALQ-USP em 1940, cidadão muito influente e polêmico em Piracicaba que presidiu o XV de Novembro de Piracicaba por muitos anos.  Me lembro bem dos jogos que assistíamos os três juntos e da forma que meu avô energizava os jogadores, comissão técnica e arbitragem (em todos os sentidos).

Muito à vontade e familiar com a imprensa, Caetano era frequentemente abordado por jornalistas que queriam compartilhar sua experiência e conhecimento.  Foi durante a graduação e um estágio com o professor Luiz Geraldo Mialhe que se interessou pela pesquisa em Máquinas e Implementos Agrícolas, com foco na melhoria da mecanização da cultura da cana-de-açúcar.

Assim que se formou em 1970, participou da implementação da Faculdade de Agronomia Luiz Meneguel, em Bandeirantes, norte do Paraná a convite do professor Salvador Toledo Piza Jr. e foi um dos fundadores do renomeado Centro Tecnológico da Copersucar.

Casou-se em 1972 com Maria Lúcia, minha mãe e pessoa que mais o apoiou em toda sua carreira acadêmica e vida familiar.  Digo com propriedade que tudo que aprendi de bom foi graças a eles o resto a vida se encarregou.

A partir de 1982 começou a dar aulas na ESALQ onde permaneceu até 2012, agregando uma coleção de mais de 21.000 imagens que registravam suas andanças pelo país e pelo mundo.  Dono de uma veia aguçada para elogiar, para criticar e imprimir com palavras suas opiniões, especialmente contra maus políticos ele fez muitos amigos e admiradores, mas não pense que ficou por isso mesmo, muitos eram adversos a sua postura.

Fez mestrado em Solos e Nutrição de Plantas e doutorado em Agronomia ambos pela ESALQ, pós-doutoramento pela University of California, Davis e foi autor de diversos livros técnicos-científicos sobre mecanização da cana-de-açúcar dos quais tive o orgulho de ser coautor em cinco deles.  Escreveu centenas de artigos que são referenciados até hoje.

Quando finalizou o doutorado foi convidado pelo Planalsucar para implantar a colheita mecanizada no estado do Alagoas, por onde permaneceu por três anos.

Caetano Ripoli foi quem idealizou e estudou a fundo, pela primeira vez no mundo, o conceito de recolhimento de palhiço de cana-de-açúcar com finalidade de cogeração de energia elétrica nas usinas e melhor manutenção da cultura.  Hoje este palhiço (frações de colmos, folhas verdes, folhas secas, ponteiros) é chamado de resíduo de colheita, ou ainda, simplesmente palha de cana.  Era chamado de louco e visionário, mas desde de lá já pensava em um sistema sustentável e numa economia circular…  Fico muito feliz em saber que estava certo e testemunhar após poucos anos a sua ideia se tornar realidade em diversas usinas e fornecedores de cana.

Por duas décadas foi professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas, focado na formação acadêmica de futuros profissionais, preocupado em ensinar não apenas o conteúdo de suas disciplinas, mas também como ser ético, focado em melhorias no setor de Máquinas e Implementos Agrícolas.  Foi membro de conselhos editorias de revistas (IDEANews e STAB) e consultor ad hoc da FAO e UNOPS, das Nações Unidas.  Orientou dezenas de alunos em iniciação cientifica, mestrado e doutorado.  Foi e continuará sendo referência na ESALQ e no setor sucro-energético mundial.

Publicou em especial dois livros: “Cantos e Recantos”, reconhecido oficialmente pela reitoria da USP, tendo minha irmã Bianca Cunali Ripoli como coautora, que retrata a ESALQ por meio de fotografias e, o mais polêmico de todos os livros “Introdução a Bundologia”.  Acreditem!

Tenho a felicidade por onde eu passo de ser abordado por muitas pessoas que compartilham momentos de alegria que viveram ao lado dele.  Ele continua citado até os dias de hoje em trabalhos científicos e conferências devido as suas importantes contribuições ao agro brasileiro e mundial.  Saudade de meu maior ídolo, meu pai!

Acredito que sua última e maior paixão foi quando seu neto, Matheus Ripoli Lara, piracicabano, nasceu em 10 de julho de 2010.  Sua maior tristeza não era tanto a doença, mas sim saber que não iria poder ver seu neto crescer…  Matheus era seu melhor remédio, ele esquecia de tudo enquanto ao lado dele.

Faleceu dia 24 de fevereiro de 2012, aos 66 anos, vítima de câncer.

 

* Marco Lorenzzo Cunali Ripoli, Ph.D. é Engenheiro Agrônomo e Mestre em Máquinas Agrícolas pela ESALQ-USP e Doutor em Energia na Agricultura pela UNESP, executivo, disruptor, empreendedor, inovador e mentor.

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