Agricultura digital: A visão de futuro da Monsanto

Rodrigo Santos, presidente da Monsanto, explica o que é agricultura digital e como a companhia vai


07.11.16

Rodrigo Santos, presidente da Monsanto, explica o que é agricultura digital e como a companhia vai usar os algoritmos para transformar o Brasil no principal celeiro de alimentos no mundo

Por Costábile Nicoletta

Há cerca de 20 anos, a multinacional de origem norteamericana Monsanto provocou uma revolução no campo ao colocar no mercado, por meio de biotecnologia, sementes de grãos que combinam genes de espécies diferentes, a fim de aproveitar determinadas qualidades de uma para melhorar a outra.

Foi o que ocorreu com o gene de uma alga rica em ômega 3 introduzido numa espécie de soja, cujo resultado foi um grão fortifi cado com essa substância usada para prevenir problemas cardíacos. Ainda há grupos ambientalistas que temem as consequências do consumo de alimentos feitos à base de grãos transgênicos, mas estudos de numerosas entidades reguladoras ao redor do mundo têm comprovado a segurança alimentar e ambiental desses produtos.

Agora, a companhia prepara se para o que considera uma nova grande revolução: a agricultura digital, que aglutinará todos os demais avanços já obtidos no campo nos últimos 50 anos e ajudará os produtores rurais a tomar decisões de plantio com base em dados estatísticos e outros critérios de alta precisão. A Monsanto já investiu US$ 1 bilhão no novo negócio.

Aquisição

A maior parte desse montante (US$ 930 milhões), em 2013, na aquisição da Climate Corporation, especializada em tecnologias que coletam, monitoram e analisam uma série de informações na lavoura, em tempo real, formando um banco de dados de fácil acesso e uso por parte dos agricultores, independentemente de seu porte.

“A agricultura digital permitirá o emprego de algoritmos e Big Data no mundo rural e que se obtenha o máximo de produtividade em cada hectare e saco de semente cultivado pelo agricultor, ao mesmo tempo em que contribuirá para reduzir a pressão exercida sobre os recursos naturais e o meio ambiente”, diz o presidente da Monsanto para a América do Sul, Rodrigo Santos.

Nos Estados Unidos, afirma, os agricultores já usam a plataforma da Climate em 30 milhões de hectares e recebem informações detalhadas de cada talhão de sua fazenda, como a visibilidade de mapas de plantio, de colheita, de produtividade, de dados precisos de cada pedacinho de chão que podem ajudálo a tomar decisões.

Direto no tablet

Com esse banco de informações, a Monsanto consegue recomendar aos agricultores qual a melhor data para plantar, a semente a usar, a adubação a ser feita, entrevárias outras decisões. Sentado em seu escritório, o produtor poderá acompanhar em seu tablet a qualidade do seu plantio, verificando a atuação de cada plantadeira, se estão trabalhando na população de plantas que ele planejou e mais uma porção de características que influenciam na safra, com a possibilidade de intervir antes da ocorrência de um problema.

No Brasil, a plataforma ainda está na fase de testes. Além das peculiaridades geográficas e climáticas do País, outro desafio a ser enfrentado é a precariedade da infraestrutura de transmissão de dados, sobretudo nas áreas rurais. A forma de contornar essa limitação nos testes tem sido instalar um componente nas plantadeiras e colhedeiras para coletar as informações e depois transmitilas para o tablet do agricultor.

Em busca de tecnologia

A Monsanto pretende buscar em outras  empresas desenvolvedoras de tecnologia e também no mundo acadêmico soluções para problemas dessa natureza. “A vantagem é que, na era digital,essas soluções avançam com muita velocidade”, acredita Rodrigo Santos. Isso implica desde colocar estacas no campo que transmitam os dados até mesmo antenas de transmissão mais potentes.

A capacitação da mão de obra nas fazendas brasileiras, pelo contrário, é um fator que pesa a favor do Brasil. Muito antes de se falar em era digital no campo, diz Santos, os técnicos dessas fazendas já operavam máquinas que custam R$ 1 milhão e possuem sensores e monitores.

E uma das vantagens da plataforma da Climate, segundo o executivo da Monsanto, é que ela consegue integrar todos os bancos de dados — como mapas de fertilidade, de plantio, colheita — dentro de um tablet de forma muito simples de visualizar e operar: “Faz parte de nossos testes tornar essa operação simples para o pequeno, o médio e o grande agricultor”. A relação que a companhia mantém com 200 mil agricultores no Brasil lhe possibilitará desenvolver produtos quase personalizados para cada cliente.

A aposta em negócios relacionados à agricultura digital também foi um dos atrativos expostos pela concorrente alemã Bayer para explicar a oferta de US$ 62 bilhões para adquirir a Monsanto, no final de maio. A proposta foi recusada pelos acionistas da companhia norteamericana, por julgarem o valor menor do que consideram justo para uma eventual transação num setor que passa por uma rodada de consolidação, com a recente fusão entre as norte-americanas Dow Química e DuPont e a aquisição da produtora suíça de sementes Syngenta pela estatal chinesa ChemChina.

Desafio da alimentação

Essa movimentação global em torno da agricultura tem explicação básica. Em 20 anos, a população da Terra precisará de 55% mais alimentos do que consegue produzir hoje com a mesma quantidade de recursos. “Minha equipe no Brasil, do comecinho da manhã até o final do dia, racha a cuca para ajudar o agricultor a produzir mais com o mesmo espaço de terra e de forma sustentável”, diz Santos.

No Brasil, segundo o executivo da Monsanto, 64% do território é coberto por florestas e reservas permanentes. Na Europa, essa relação é de 0,3%. Há 9% do território brasileiro usado para a agricultura. A projeção da Monsanto é de que 95% da expansão de produção de alimentos nos próximos anos serão provenientes do aumento da produtividade, com uso de inovação e tecnologia.

Somente 5% virão de novas áreas agricultáveis. Nos últimos 20 anos, o Brasil aumentou em 240% sua produção agrícola e somente 30% de área agricultável. Segundo a FAO, o País e a América do Sul serão responsáveis por 40% do aumento de produção de alimentos esperado para os próximos anos. “O Brasil tem a possibilidade de ser o grande celeiro sustentável da agricultura no mundo”, garante Rodrigo Santos.